e tumultuosamente, aprendera milagres de santos, leis visigóticas, batalhas da antiguidade, receitas de drogas e notícias dos países que estão para o Oriente: –mas eram como curtas fendas, num tecto de maciças traves, por onde entrevia pontos vivos de luz, aqui e além, e tudo o resto era escuro, e a luz completa estava por trás, sem a alcançar.
Mesmo por vezes lera um grande tomo, de Aristóteles ou de Séneca – mas sentia que o seu espírito solitário, sem um guia, ia através daquele saber, como um homem perdido de noite numa montanha desconhecida.
A sua alma então, nessa grande sede que não podia ser saciada, porque estava tão longe de toda a fonte, caiu numa melancolia. Abandonou os grossos in-fólios onde já nada novo podia aprender – e não o atraía a companhia de homens que nada lhe podiam ensinar. Só, com um galgo, partia de manhã, penetrava nos campos, procurava a solidão das quebradas e dos vales: e aí, caminhando devagar, ao comprido de um ribeiro, ou deitado à sombra de uma árvore, ele pensava na inutilidade da vida...
Aquilo, pois, era viver–esta monótona sequência dos actos instintivos: acordar, comer, caminhar entre as árvores, voltar à mesa onde as malgas fumegam, e, quando a luz finda, adormecer? Assim vivia qualquer bicho no mato!