comidas francesas... Se nesta capital do Reino, resumo de toda a vida portuguesa, um patriota quisesse aplaudir uma comédia de Garrett, ou comer um arroz de forno, ou comprar uma vara de briche – não podia.
Nem nos palcos, nem nos armazéns, nem nas cozinhas, em parte alguma restava nada de Portugal. Só havia arremedos baratos da França. A particular atmosfera de coscuvilhice política, que é tão peculiar a Lisboa como o nevoeiro a Londres, forçou-me, a meu pesar, a embrenhar-me também na política. Em que política? Boa pergunta! Na francesa! Porque havia então em Lisboa toda uma classe culta e interessante de políticos «franceses», que, no Grémio, na Havanesa, à porta do Magalhães, faziam uma Oposição cruel, amarga, inexorável, ao Império Francês e ao Imperador Napoleão!
Também havia decerto, na Baixa, no Passeio Público, imperialistas, que tinham empreendido a campanha da Ordem contra Rochefort, e contra Gambetta. Mas era uma minoria. Lisboa toda arreganhava o dente para o imperador. E, naturalmente, eu, moço e ardente, cheio de ideias de Liberdade, e de República, trasbordando de ódio contra essa corja dos Rouher e dos Baroche, que proibiam o teatro de Hugo, e tinham levado à polícia correccional Gustavo Flaubert, lancei-me vivamente