se inúteis. Hoje ao amanhecer pediu-me que queria ficar só por algumas horas, e voltei a Santa Cruz, onde gastei algum tempo a esperar-vos; mas vendo que não chegáveis, e lembrando-me do penoso estado em que a tinha deixado, tomei a resolução de vir de novo trazer-lhe a palavra divina, único bálsamo para as chagas do coração. Este seu desaparecimento, confrontado com a desesperação em que estava, faz-me recear alguma desgraça.
Susana, erguendo as mãos à altura da cabeça, bradou:
— Meu Deus! – E caiu sem acordo.
Fernando P. não lhe ouviu esta exclamação de desespero; porque já havia montado, e com seus dois pajens corria afanoso e desesperado a estrada que conduz a Santa Cruz. Os cavalos dispararam fogosos e rápidos como o aquilão, e sumiram-se com velocidade incrível.
A noite era já adiantada, e o galo, que cantara na fazenda de Santa Cruz, e que ele ouvira ao longe, veio revelar-lhe que tinha soado a hora dos mistérios, a hora em que aquele que medita em meio dos palmares, ou sobre as ribas do mar, debaixo do nosso opulento e magnifico céu todo estrelado, enche o coração de maga poesia, e de um sentir delicioso, que vai como nuvem de incenso desfazer-se puro aos pés do trono do monarca do universo. A hora alta e silenciosa da noite encerra mistérios tão profundos, que só os compreende a alma que verga ao peso de uma dor íntima e incurável, ou o coração, que transborda de afetos, que a vida inteira não pode resfriar.
Para os demais, a hora da meia-noite não tem significação. O comendador Fernando não estava nesse