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de tudo os francezes, que vinham commigo, achando saborosos os peixes, com grande satisfação dos indios, que os apreciam tanto á ponto de irem muito longe buscal-os.

Como se acham em tanta abundancia estes peixes em taes fóssos ou poços desde o inverno até esse tempo? Se explicações servem ja as dei no cap. 40, e por isso á ellas me refiro, acrescentando ainda o seguinte.

A grande quantidade de chuva faz transbordar os rios, os regatos, e o proprio mar, de maneira que todos estes campos ficam innundados até a altura de um homem: assim sahem os peixes do lugar natural, onde habitavam, ahi regalam-se com pastos novos a ponto de não se lembrarem de regressar a Patria, e por isso quando as agoas se abaixam, ficam presos em fóssos e poços como vimos em todos os lugares onde se dão estes factos.

A caça dos jacarés lhes é util e agradavel: são pequenos crocodillos com 8 ou 10 pés de comprimento, de pelle dura, ventre molle, sem lingua, com olhos vivos, sempre alerta e maus: accommettem o homem, cortam e devoram o primeiro membro que agarram.

Escondem-se em grotas, á margem dos rios, e sempre de emboscada, nadam como peixes, arrastam-se ligeira e brandamente, abrem a bocca, e como que intentam assustar-vos si vos encontram: põem ovos iguaes aos de galinha, porem cobertos de protuberancias, como as castanhas; dizem que são bons para comer, mas eu não affianço porque nunca os provei, pois sempre tive muito horror á estes bixos.

Chocam seos ovos, e d’elles sahem jacarésinhos, gordos, grandes e compridos, como os lagartos que vemos pelo estio correr nos muros.

É para admirar, que de tão pequeno bixo origine-se tão grande animal, e que apenas sahido da casca do ovo começa a andar e arrastar-se!

Sua carne cheira a almiscar, é doce e desagradavel: os selvagens porem não fazem caso d’isto, apreciam-na muito