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tranquillo, todos os sanctos gosos de alma que parece que lhe andam esvoaçando em tôrno?

Se fôr homem é poeta; se é mulher está namorada.

São os dois entes mais parecidos da natureza, o poeta e a mulher namorada: vêem, sentem, pensam, fallam como a outra gente não ve, não sente, não pensa nem falla.

Na maior paixão, no mais acrysolado affecto do homem que não é poeta, entra sempre o seu tanto da vil prosa humana: é liga sem que se não lavra o mais fino de seu oiro. A mulher não; a mulher apaixonada devéras sublima-se, idealiza-se logo, toda ella é poesia; e não ha dor physica, interêsse material, nem deleites sensuaes que a façam descer ao positivo da existencia prosaica.

Estava eu n’estas meditações, começou um rouxinol a mais linda e desgarrada cantiga que ha muito tempo me lembra de ouvir.

Era aope da ditta janella!