Nada mais natural que o desejo de publicar um livro.
E’ esta a nossa constante aspiração emquanto moços estamos, na ditosa quadra da vida, em cujo rapido decurso mil e varias inspirações nos acódem ao espirito, que, seduzido pelas paixões e alegrias da pouca idade, debalde procurara fixar tons de coherencia, no estylo, na harmonia, no plano em que estão lançadas nossas producções.
Mas nem sómente naquelle desejo está a justificativa dos que atiram á publicidade um livro, com modestas e perdoaveis pretenções de tomar humilde parte no grande e magnifico contingente de bellas-lettras, que a mocidade mineira tem levado para reforçar os creditos da Patria Litteratura.
Este é o meu caso.
No que se vae lêr neste meu livro — que encerra, em cunho bem accentuado, quasi todas as impressões que tem recebido antes dos vinte annos minh’alma de moço, filho d’esse amplo e generoso pedaço de Minas, já bem agarrado ás primeiras e vastissimas planicies sertanejas — sei que ponquissima será a originalidade encontrada.
E. todavia, se outros soccorridos de mais talento que eu, alentados por mais sadia e ardente imaginação que a minha, se dedicassem ás proveitosas excavações do nosso bello e saudoso Passado, tão rico de glorias, tão opulento de heroismos, é certo que novos e fulgurantissimos brilhos adquiririam as lettras de Minas Geraes.
Talvez perdidos fiquem esses enormes veios, bem pouco explorados até agora, de formosas lendas e exemplares costumes da nossa faustosa vida, transcorrida sob o regimen de Capitania, da pacatamente proverbial existencia provinciana...
Muitas das paginas dos « Contos e Escriptos » já foram publicadas em diversos jornaes do Estado, sobo pseudonymo de Pelayo Serrano, tendo, com justo desvanecimento para mim, recebido animador applauso de competentes conterraneos.
Agora, enfeixadas em volume, vão as « Paginas Timidas » a caminho da publicidade, talvez que fadadas ao impiedoso acolhimento feito pelos impertinentes aos galluchos do disciplinado corpo da Litteratura.
Da Imprensa magnanima e forte. que sabe acolher os novos, descontando-lhes, fidalgamente, os senões e lacunas — d’essa, por certo, não poderei esperar causticantes aguilhoadas de critica, que, embora justa na severidade do destrinçar os defeitos d’este livro, não deixaria de me trazer amargo desanimo.
Consenti, pois, leitores amigos e mestres benevolentes, que passem sob vossos olhos, livres de estiolantes motejos e agras ironias — os meus « Contos e Escriptos ».
Ouro Preto, 15 de março de 1896.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
