Trinta e Um de Maio

E' uma das datas mais queridas e venêradas do mundo christão.

Encerra ella um poema de triumphos para a religião, na celebração universal do culto de Maria.

Maio! o ditoso mez das campinas em flor, dos vergeis soberbos de viço e galas, é o preferido e dedicado pela Egreja aos festejos da Virgem.

Então a natureza se encarrega de engrinaldar os templos com as magnifizencias e esplendores dos campos e jardins.

De um a outro polo da Terra, por onde a fé catholica ha diffundido seus dogmas de verdade, conducentes ao fim santissimo de enzaminhar a humanidade para a vereda do Bem — celebram-se com inaudita ostentação os gloriosos trinta e um dias, durante os quaes o genero racional apresenta as mais gratas offerendas de seu temor religioso ao sublime coração da Mãe Immaculada de Christo.

Acto grandioso essa demonstração de amor e respeito, em culto bello e innocente, á Soberana da Côrte Celeste !

Pelo mundo inteiro, é por todos escutada com prazer — creanças e velhos, mulheres e homens — a hora augusta em que os sinos bimbalham, em jubilos triumphaes, os toques que chamam os fieis ás Egrejas, para os pios exercicios do mez Marianno.

Palpitam, alegres, os corações dos crentes, agitados pela doce commoção das preces dirigidas ao throno enfeitado da Virgem.

Singellos e tocantes hymnos rompem do côro ifantil das meninas, cujas vozes ds um timbre fresco da mimosa juventude, sobem pelo ambito das naves em melodiosas espiraes de amor...

O orgão profundo e grave, em notas de meiga uncção, acompanha-as nos canticos.

Insensivel transporte se apodera dos devotos, cujo espirito arrebatado se eleva em mansa ascenção até a morada celestial da Divina Protectora.

Quanta ternura nessa ceremonia cheia de mil mysterios e encantos, durante a qual um mundo inteiro se extasia e dobra os joelhos deante da piedosa Advogada dos Peccadores !

E a procissão solemae da festa, anciosamente esperada pelos devotos ?

Os campanarios repicam, e affluem de todos os lados filas ondeantes, tão brancas como a neve são as candidas donzellas revestidas de seu symbolo virginal — o véu alvissimo de gaze, preso aos anneis das formosas madeixas pelos galhos perfumados das laranjeiras em flôr...

A' vanguarda das alas segue o estandarie de Maria Concebida, alçada a cruz no pendão; atraz, conduzido aos hombros das radiosas virgens, vae o andor armado com rara magnificencia

Fecha o magestoso cortejo o pallio de vistoso damasco, ensanefado de brilhantes cachos de seda e vidrilhos : sob elle marcham os sacerdotes — novos soldados de Deus —, entoando a psalmodia christã do Magni∫icat,

E por fim, na rectaguarda do pario, na mistura bizarra do mulherio beato, cujas vestes de côres variegadas se confunden, insolontamente, com os tons dourados do calmo sol de estio, que illumina a procissão — caminham as philarmonicas, executando musicas triumphaés, que saúdam a imagem luminosa de Maria de Nazareth, soberana nas pompas e flores que lhe enaltecem a bellicsima fronte de Rainha !

1895.


Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.