Ouvi, tranquillos burguezes, os rebates sinistros de fogo, lá pela antiga casaria desmoronada do bairro de Regisburgo.
Contemplae d'aqui as compridas linguas adelgaçadas, que já vão lambendo as cumeeiras altas e seculares d'aquelle canto povoado por uma gente, que ainda se recorda de coroados !
E vêde como os clarões se extendem, óra mansos e recuando, óra ferozes e atrevidos, e propapagando o rastilho luminoso pelo monturo apodrecido da liaça e da madeira.
Voôu a estrige agoureira, escarmentada pela rubra athmosphera do incendio : vae ruflando as azas, emquanto larga ao vento pios agudos de maldicção contra o seu ninho já consumido, ao mesmo tempo que o esverdinhado telhado onde existira.
Ruio aquella casinha estreita e elevada, que parecia dominar todas as outras do prisco arrabalde : quiz resistir, mas o fogo deseja a refórma e não attende ás supplicas ridiculas da antiquada baiúca churdosa.
Foi-se outro casebre, outro mais.
Agora a fumaça espessa envolve, com os rolos e vapores do brazido vomitados, as labaredas crescidas, que affectam fórmas caprichosas de truncadas pyramides e cônes ponteagudos.
E aquelles escombros incendiados do vetusto bairro de Regisburgo apresentam-nos á vista os tons phantasticos de longinqua cidade iluminada, tendo seus castellos derruidos, as cupulas de suas torres devoradas pelo fogo, seus decahidos palacios e monumentos semi occultos na fulgida transparencia de luzentes nevoeiros !
1894
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.