O fazendeiro creara filhos
Escravos escravas
Nos terreiros de pitangas e jaboticabas
Mas um dia trocou
O ouro da carne preta e musculosa
As gabirobas e os coqueiros
Os monjolos e os bois
Por terras imaginarias
Onde nasceria a lavoura verde do café
O Narciso marcineiro
Que sabia fazer moinhos e mesas
E mais o Casimiro da cosinha
Que aprendera no Rio
E o Ambrosio que atacou Seu Juca de faca
E suicidou-se
As desenove pretinhas gravidas
O Jeronymo estava numa outra fazenda
Socando pilão na cosinha
Entraram
Grudaram nelle
O pilão tombou
Elle tropeçou
E cahiu
Montaram nelle
O noivo da moça
Foi para a guerra
E prometteu se morresse
Vir escutar ella tocar piano
Mas ficou para sempre no Paraguay
A mulatinha morreu
E appareceu
Berrando no moinho
Socando pilão
Os negros discutiam
Que o cavallo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou
A assombração apagou a candeia
Depois no escuro veiu com a mão
Pertinho delle
Ver se o coração ainda batia
O canivete voou
E o negro comprado na cadeia
Estatelou de costas
E bateu coa cabeça na pedra
— Qué apanhá sordado
— O que?
— Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada
A escrava pegou a filhinha nascida
Nas costas
E se atirou no Parahyba
Para que a creança não fosse judiada
Contam que houve uma porção de enforcados
E as caveiras espetadas nos postes
Da fazenda deshabitada
Mivam de noite
No vento do matto
Os cem negros da fazenda
Comiam feijão e angú
Abobora chicorea e cambuquira
Pegavam uma roda de carro
Nos braços
— Chega! Peredôa!
Amarrados na escada
A chibata preparava os cortes
Para a salmoura
No baile da Corte
Foi o Conde d’Eu quem disse
Pra Dona Bemvinda
Que farinha de Suruhy
Pinga de Paraty
Fumo de Baependy
E′ comê bebê pitá e cahi
Se Pedro Segundo
Vier aqui
Com historia
Eu boto elle na cadeia
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1930 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.