Paulo de fato aproveitara as lições que tinha recebido de seu velho pai, e agora mais do que nunca fazia da pintura uma profissão.
Já não era um artista por necessidade, era-o de gênio.
Um dia em que ele apresentava a sua mãe o retrato de sua irmã, aquela não pôde suster as lágrimas, que também o prazer as excita, e exclama entre soluços, enlevada com a perfeição do trabalho:
— É certo filho, o que muitas vezes te ouvi dizer teu pai, que Deus haja, quando tu lhe teimavas que não tinhas jeito para pintor: "Paulo" - dizia-te ele -, "o homem é o que quer ele próprio ser, e não o que quiserem os outros"; é certo e bem certo!
E a mãe afagava o filho, e o irmão entregava à irmã o retrato que lhe tinha tirado; a irmã lá se ia toda contente dando vivas a seu irmão, e a flor da alegria perfumava o lar dos pobres!
Prazeres domésticos, carícias de mãe para filhos, risos de irmãos para irmãos, ai daquele a quem não alimentais as crenças do coração!
Paulo trabalhava de dia com o seu pincel, de noite estudava seus livros, contente com a sua arte e feliz na obscuridade da sua pobreza.
Sua mãe e irmã também não se poupavam ao trabalho, ajudando-o com o fruto de algumas costuras. Uma e outra agradeciam a Deus o ter-lhe dado aquela um filho e a esta um irmão que de dia em dia mais merecedor se faria das bênçãos do céu.
Algum tempo depois de ali residir o comendador B..., Paulo caiu doente. A moléstia era grave exigiu a assistência de um médico e foi chamado o comendador.
Veio o médico e daí partiu o seu conhecimento com Paulo e sua família.