TRISTEZA


Dizes que meu amôr te encanta a vida,
Teus alvos dias, teus nocturnos sonhos;
Mas tens a face de prazer tingida,
Teus labios são risonhos!

Não podem florescer o amôr e o riso
Nos mesmos labios: da paixão o fogo
Mata as rosas do rosto, de improviso
Gera a tristeza logo.

Olha: minh’alma é pallida e tristonha,
Minha fronte é nublada, e sempre afflicta;
Entretanto uma imagem bem risonha
Dentro em minh’alma habita.


Mas esse ermo sorrir, que eu tenho n’alma,
Não é como da aurora o riso ardente;
E’ o sorrir da estrêlla em noite calma
Brilhando docemente.

Ah! se me queres á teus pés prostrado,
Troca o riso por pallida belleza:
Mulher! torna-te o anjo que hei sonhado,
Um anjo de tristeza!