Os frígios, entretanto, afirmam ainda que o pai do universo é Amygdalus[1], não uma árvore, mas aquele que se chama por esse nome, que existe anteriormente; e tendo o fruto perfeito, como esperado, pulsando e movimentando-se nas profundezas, arrancando seu peito, e produzindo a criança invisível, inominável e inefável, a respeito de quem falamos. Porque a palavra "Amyxai" significa explodir e dividir por meio de algo, como (acontece) em corpos flamejantes, nos quais existem tumores; e quando os doutores cortam (os tumores), eles o chamam de "Amyxai". Desta forma, dizem eles, os frígios chamam aquele de "Amygdalus", do qual procedido e foi dada à luz pelo Indescritível, do qual "todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez." [2] E os frígios dizem que o que foi produzido daí é "Sycritas" músico [3], porque o Espírito que nasce é harmonioso. "Porque Deus", dizem eles, "é Espírito" e portanto "nem neste monte os verdadeiros adoradores adoram, nem em Jerusalém, mas em espírito. Porque a adoração dos perfeitos", dizem eles, "é espiritual, não carnal"[4]. O Espírito, dizem eles, é tanto o Pai, que foi nomeado, quanto o Filho nascido deste Pai. Isto, dizem eles, é o Incompreensível de mil olhos, do qual toda a natureza - mas de acordo com a situação - deseja. Isto, dizem eles, é a palavra de Deus, da qual é a palavra para revelação dos Grandes Poderes. Por isso deve ser selada e escondida, enterrada na habitação onde estão as raízes sustentadoras do universo, a saber, Éons, Poderes, Inteligências, Deuses, Anjos, Espíritos delegados, Entidades, Não-entidades, Geráveis, Ingeráveis, Incompreensível, Compreensíveis, Anos, Meses, Dias, Horas (e) o Ponto Invisível sendo que [5] começa por este último e cresce gradualmente. Este (último) é, dizem eles, nada e consiste de nada, sendo indivisível - (quer dizer) é um ponto - tornado-se incompreensível pelo seu poder refletivo. Isto é o reino dos céus para eles, o grão de mostarda[6] o ponto indivisível; e ninguém conhece esse ponto, a não ser os espirituais. E isso é o que foi falado "Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as vozes"[7].
Os naasenos assumem, sem nenhuma prudência, que todas as coisas ditas pelos homens, (foram feitas para harmonizar) com sua própria cosmovisão, alegando que todas as coisas se tornam espirituais[8]. Continuando desse princípio eles se exibem nos teatros, sem dizer ou fazer qualquer coisa sem premeditação. Dizem eles que, quando as pessoas se reúnem nos teatros, qualquer um que entre com uma roupa fora do comum, com uma harpa e tocando num tom, (ou acompanhando), de um som que implique grande mistério, falando assim: "Assim (és) a raça de Saturno ou Júpiter bem-aventurado[9] ou poderosa Réia, Hail, Atis, triste mutilação de Réia. Assírios chamam-te três vezes de Adonis, e todo o Egito, Osíris,dabeça da Lua; gregos, Sabedoria; samotrácios, venerável Adão; hemonianos, Coribas; e os frígios uma vez Papa, outra Cadáver, ou Deus, ou Infrutífero ou Aipolos, ou Alqueire de Milho que foi ceifado, ou fértil Amygdalus que produziu - um homem, um músico." Este, dizem eles, é o multiforme Atis, o qual é celebrado em um hino, cantando essas palavras: "Eu louvarei Atis, filho de Rhea, não com sons pertubantes de trombetas, ou flautas, de acordo com (as vozes) dos Curetes; mas eu combinarei (meu som) com as harpas de Apolo, evocando, porquanto tu és Pã, e Baco, e tu és o pastor das estrelas brilhantes."
A respeito desta e de outras razões, os naasenos constantemente atendem aos chamados mistérios da "Grande Mãe", supondo principalmente que eles contemplam por meio de cerimônias feitas em completo mistério. Nestas cerimônias não há nada de novo, apesar de que eles não são emasculados: eles meramente completam o processo. Com a maior severidade e vigilância eles cumprem (seus votos) de se absterem, como se fossem emasculados, de intercurso com mulheres. No resto do procedimento (observado nesses mistérios), como foi exposto anteriormente, (eles seguem) como (se fossem) pessoas emasculadas. E eles não adoram nenhum outro objeto, a não ser Naas, (sendo assim) denominados naasenos. Naas é serpente daonde, isto é, da palavra "Naas", (os naasenos) dizem que possui todos os templos na terra[10]. E que para ela - Naas - é dedicado todo santuário e todo rito de iniciação, e todo mistério; e, geralmente, uma cerimônia religiosa não pode ser realizada no céu, no qual nenhum templo existe; o templo é Naas em si mesmo, do qual recebeu a denominação de templo. E eles afirmam que a serpente e asubstância úmida, assim como Tales de Mileto (falou sobre a água como princípio que originou tudo) e nenhuma das coisas, imortais ou mortais, animadas ou inanimadas, poderiam existir sem ela. E todas as coisas são sujeitas a ele, sendo ela boa, tendo todas as coisas em si, como o unicórnio[11] dando beleza e vigorosidade a todas as coisas existentes, de acordo com sua própria natureza e peculiaridades, como se fosse o rio do Éden que "se dividia e se tornava em quatro braços"[12].
Eles afirmam que o Éden é o cérebro, limitando e fixando em mantos circulares, como se estivesse no paraíso. Mas eles supõem que o homem, considerando apenas a cabeça, é o Paraíso, com base que "é o rio que flui do Éden", isto é, do cérebro, "que é dividido em cabeças[13], e o noem do primeiro é Pisom: este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro. E o ouro dessa terra é bom: ali há o bdélio, e a pedra sardônica." Este, dizem eles, é o olho, o qual por sua honra (entre o resto dos órgãos do corpo), e suas cores, fornecem testemunho do que é falado. "E o nome do segundo rio é Giom: este é o que rodeia toda a terra a Cuse." Este é o ouvido, já que Giom tem (um traçado tortuoso), parecendo um labirinto. "E o nome do terceiro rio é Hidéquel: este é o que vai para a banda do oriente da Assíria." Este é o nariz, empregando uma corrente extremamente rápida (como uma analogia em relação ao olfato). Ele flui oposto (ao país) dos assírios, porque em cada ato de respiração e expiração, o ar se movimenta rapidamente e com grande força, sendo esta a natureza da respiração. "E o quarto rio é o Eufrates." Este é a boca, a qual é a passagem da oração e do alimento. (A boca) traz alegria, forma e nutre o Perfeito Homem Espiritual. Este é "a água que estava sobre a expansão"[14], a qual, dizem eles, o Salvador declarou: "Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz - Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva."[15] Dentro dessa água, dizem eles, toda natureza entre, escolhendo sua substância; e a qualidade peculiar de cada natureza vem dessa água, mais do que o ferro se atrai ao ímã, e o ouro às costas[16] do falcão do mar, e o amarelo ao moinho.
Mas se alguém é cego de nascença, e nunca viu luz de verdade, "que ilumina todo homem e vem ao mundo"[17] deve-se recuperar sua visão, e ver, no paraíso todas as árvores descritas, e tendo abundância de frutos, e sendo regada pela água que passa por ele; e ele verá a mesma água que aoliva escolhe para si e dá o óleo, e a vinha, vinho, (e assim) cada planta de acordo com sua espécie. Aquele Homem, dizem eles, não tem reputação no mundo, mas tem fama ilustre nos céus, sendo traído pelos ignorantes (de sua perfeição) a aqueles que não o conhecem, sendo contado como se fosse a gota em um balde[18]. Eles ainda dizem que eles são espirituais, que, da água da vida do Eufrates, que flui pela Babilônia, escolhemos nossa qualidade peculiar assim que passamos através da porta verdadeira, que é Jesus. E de todos os homens, apenas eles, considerando-se cristãos, passam pela terceira porta para celebrar o mistério, sendo ungidos com o óleo, como Davi (foi ungido), não de um vaso terreno [19], como foi Saul, que teve com o demônio maligno[20] da concupisciência carnal.
Notas
editar- ↑ N.T.: Amygdalus é o gênero das ameixeiras, cerejeiras, etc.
- ↑ João 1:3
- ↑ N.T.: A palavra em inglês significa literalmente "tocador de gaita".
- ↑ N.T.: Citação naasena baseada em João 4:21.
- ↑ ἐξ ἧς or ἑξῆς, isto é, próximo.
- ↑ Mateus 13:31, 32, Marcos 4:31, 32, Lucas 13:19
- ↑ Salmos 19:3
- ↑ N.T.: Isto é, podem ser alegorizadas ou interpretadas de acordo com o que bem entenderem (talvez eles fossem os primeiros pós-modernos).
- ↑ Esta passagem está em versos no original. Schneidewin restarou a forma poética em sua versão.
- ↑ N.T.: Templo em grego é ὁ ναός, ho naós, literalmente habitação. Os naasenos atribuem a semelhança entre as grafias como evidência de sua divindade.
- ↑ Deuteronômio 33:17
- ↑ Gênesis 2:10
- ↑ Gênesis 2:11-14, na Bíblia está escrito "braços. "Cuse" pode ser também Etiópia e "Hidéquel" pode ser Tigre.
- ↑ Gênesis 1:7
- ↑ João 4:10
- ↑ κερκίς. Essa palavra literalmente significa "bastão"; ou, em tempos posteriores, o pente fixado no ἱστός (isto é, tear vertical), para direcionar o fio do tecido, fazendo a costura mais firme. Entre outros significados, é aplicado aos ossos da perna ou braço. Cruice e Schneidewin traduzem κερκίς por spina, nesta parte. A alusão é feita novamente nos capítulo 13 e capítulo 16. Na última passagem, κέντρον (espora) é usada em vez de κερκίς.
- ↑ João 1:9
- ↑ Isaías 40:15
- ↑ 1 Samuel 10:1, 1 Samuel 16:13
- ↑ 1 Samuel 16:14