Quando veio a hora de nascer o filho, estava Xavier em um dos estados de desejo; o acontecimento pôde distraí-lo. Já tinha em casa médico e uma comadre, um tio da mulher e duas filhas. Não faltou nada. Havia animais encilhados e pajens prontos para correr à vila próxima, a buscar o que fosse preciso. D. Paula padeceu muito, e as esperanças dissiparam-se na mais triste das realidades; o filho nasceu morto. A dor da mãe foi profunda, a convalescença longa.

Quando ficou de todo restabelecida, Xavier propôs-lhe virem ao Rio de Janeiro, passar a temporada lírica; ela aceitou, menos por gosto, menos ainda por distração, que por ceder ao pequeno acesso de ternura do marido. Com efeito, ele expediu ordens para que arranjassem casa e todas as comodidades. Vieram; Xavier assinou um camarote. D. Paula tinha aqui parentes, amigos, conhecidos; a vida teve desde logo um bom aspecto. Pela sua parte, o marido mostrava-se mais atento aos seus desejos. Era uma renascença? Ela supôs que sim e isto ajudou a fazê-la sarar da alma. Não faltava quem a cortejasse, quem a admirasse, e naturalmente, quem a invejasse, pela beleza, pela graça, pelas maneiras simples e discretas, particularmente suas. Xavier parecia tirar vaidade desse efeito geral. Seria mais um elo que os prendesse intimamente.

Entretanto, pouco depois de chegados, começaram as suas noitadas fora de casa. Da primeira vez, quando ele se recolheu (quatro horas da manhã) ainda D. Paula estava acordada, ansiosa, vestida, e atirou-se a ele, satisfeita de o ver. Sinceramente receava algum perigo; não pensou em amores nem cartas. Xavier não correspondeu à ansiedade da mulher, nem entendeu os seus receios. Respondeu-lhe irritado; disse-lhe que fizera mal em não ter dormido.

— Sou alguma criança?

— Mas, Xavier...

— Roceiro, sou; mas conheço a cidade na ponta dos dedos. Você está já com as manchas das moças da corte; não tarda algum ataque de nervos. Que choro é esse? Vá dormir, não me aborreça. Descanse, que não me perco.

A segunda noitada foi dali a três dias; D. Paula só tarde pôde dormir; acordou, quando ele chegou, mas não descerrou os olhos. Desconfiou que fossem mulheres; ele confessou-lhe, no dia seguinte, que estivera em casa de um amigo, jogando o voltarete.

— Quando demos por nós eram duas horas da noite, concluiu.

Dali em.diante, quando tinha de passar fora a noite, não saía de casa sem lhe dizer. — Vou ao voltarete. D. Paula soube que era verdade, e acostumou-se a dormir à hora da roça, porque nas noites de teatro ou de visitas, ele não deixava de a acompanhar, e dormiam naturalmente tarde.