Determinando El-Rei de Portugal, dom João o terceiro, mandas a estas partes do Brasil a Tomé de Sousa, por Governador Geral, houve que, para satisfazer com o santo zelo que tinha de procurar o bem espiritual de seus vassalos, nas províncias sujeitas à sua Coroa, era necessário enviar, com ele juntamente, alguns religiosos, para conservarem nos costumes cristãos aos portugueses, e darem princípio à conversão, e conhecimento do Santo Evangelho, ao gentio.

E lembrado do muito que na Índia Oriental faziam em ambas estas empresas, o santo padre Bato Francisco Xavier, e outros padres da Companhia, que naquelas partes andavam, os quais ele também enviara havia já alguns anos, pediu ao Padre Mestre Simão, Provincial em Portugal, alguns padres para esta missão, e particularmente insistiu lhe desse para Superior de todos o Padre Manuel da Nóbrega, e quis fosse ele o primeiro que declarasse a fé de Deus Nosso Senhor neste Estado, porque o conhecia e estava bem inteirado de sua virtude e letras, já do tempo que estudara em Coimbra, antes de ser religioso, quando o doutor Navarro o apregoava pelo menor de seus discípulos.

Andava neste tempo o Padre Manuel da Nóbrega pelo Reino fazendo muito serviço a Deus, no bem das almas, com pregar, confessar e fazer os mais ministérios de que a Companhia usa para este fim. Foi logo mandado vir, mas por mais diligência que se fez, já as naus com o Governador eram partidas, com cinco da Companhia, todos debaixo da obediência do Padre Manuel da Nóbrega, ausente. Ficou só a nau do provedor-mor, Antonio Cardoso de Barros, esperando pelo padre, e tanto que chegou se partiu, e foi alcançar a frota no mar, com grande alegria do Governador, dos padres e de toda a armada. De maneira que a primeira missão dos padres da Companhia que se fez a estas partes, foi à petição del Rei dom João, e por ordem do nosso beato Padre Inácio de Loiola, fundador e primeiro Geral da Companhia.

Partiu a armada de Lisboa no ano de mil quinhentos e quarenta e nove, no primeiro dia de fevereiro, que é dia do santo bispo e mártir Inácio. Vinham nela seis da Companhia: o Padre Manuel da Nóbrega, o Padre Leonardo Nunes, o Padre João de Aspilcueta Navarro, sobrinho do Doutor Navarro, o Padre Antonio Pires e os irmãos Vicente Rodrigues e Diogo Jácome.

No ano seguinte, de mil quinhentos e cinqüenta foram enviados de Portugal, para ajudarem aos obreiros desta vinha, quatro sacerdotes: Salvador Rodrigues, Francisco Pires, Manuel de Paiva e Afonso Brás.

Padre Luis da Grã

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Depois sendo informado ao Padre Miguel de Torres, visitador da Província de Portugal, da falta que havia nestas partes de pessoas da Companhia, para as muitas ocupações que tinham, e novas empresas da conversão a que era necessário acudir, declarou por Superior da terceira Missão, ao Padre Luis da Grã, que fora reitor do Colégio de Coimbra, e nestas partes do Brasil foi o segundo provincial.

Deram-lhe por companheiros dois padres e quatro irmãos: os Padres Brás Lourenço e Ambrósio Pires, os irmãos Gregório Serrão, João Gonçalves, Antonio Bláques, e José de Anchieta, que era o mais moço de todos. Partiram de Lisboa a oito de maio de mil quinhentos e cinqüenta e três anos, chegaram à Bahia aos treze de julho do mesmo ano, em companhia do segundo Governador Geral, Dom Duarte da Costa, que os tratou na viagem com muita benignidade e respeito.