Anexo:Imprimir/Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil

  • Ao imprimir esta página, selecione a opção de Versão para impressão do menu lateral esquerdo. Notarás que desaparecerão este quadro, os cabeçalhos e elementos de navegação entre páginas que não seriam úteis em uma versão impressa.
  • Clicando primeiro em atualizar esta página estará se assegurando de obter as últimas atualizações feitas no livro antes de o imprimir.
  • Se preferir, podes exportar o texto em um dos formatos a seguir:


ARTE DE GRAMÁ-

TICA DA LÍNGUA

mais usada na costa do Brasil.

Feita pelo padre José de Anchieta da Companhia de Jesus.

Com licença do Ordinaáio & do Prepósito geral
da Companhia de Jesus.
Em Coimbra por António de Mariz. 1595

Índice

editar
  1. Das letras - Cap. I
  2. Da ortografia ou pronunciação - Cap. II
  3. De accentu - Cap. III
  4. Dos nomes - Cap. IIII
  5. Dos pronomes - Cap. V
  6. Dos verbos - Cap. VI
  7. Anotações, na conjugação - Cap. VII
  8. Da construção dos verbos ativos - Cap. VIII
  9. De algumas maneiras de verbos em que esta anfibologia se tira - Cap. IX
  10. Das preposições - Cap. X
  11. De sum, es, fui - Cap. XI
  12. Dos verbos neutros feitos ativos - Cap. XII
  13. Dos ativos feitos neutros - Cap. XIII
  14. Da composição dos verbos - Cap. XIIII
  15. Da repetição dos verbos - Cap. XV
  16. De alguns verbos irregulares de - Cap. XVI

Nesta língua do Brasil não há f, l, s, z, rr dobrado nem muda com líquida, ut cra, pra, etc. Em lugar do s in principio ou medio dictionis, serve ç com zeura, ut Açô, çatâ.

Algumas partes da oração se acabam em til, o qual não é m nem n, ainda que na pronunciação difiram pouco, ut , Ainupã, ruã.

Não há uma consoante continuada com outra na mesma dição: exceto mb, nd, ng ut Aimombôr, Aimondô, Aimeêng.

Acrescentando-se alguma partícula depois da última consoante, em que se acaba o verbo, o qual se faz no futuro, do Indicativo, no Optativo, nos pretéritos imperfeitos do Conjuntivo; há alguma diferença na pronunciação, e o uso de diversas partes do Brasil será melhor mestre. Por que desde os Potiguares do Paraíba até os Tamoios do Rio de Janeiro pronunciam inteiros os verbos acabados em consoante, ut Apâb, Acêm, Apên, Ajur.

E assim aditas as partículas dos tempos sobreditos interpõem i áspero, ut in futuro, ne Apâbine, Acêmine, Apênine, Aiùrine.

E ainda que pareçam pronunciar Apâbne, etc. é pela delicadeza com que tocam o i e ainda no mesmo presente o exprimem às vezes, ut Apábi. O mesmo é de temo, meímo mo, meémo, que se acrescentam aos outros, optativo, etc. ut Apâbitemomã, Apâbimo, etc.

E também com a interrogativa, , ut Ereiûripè?

Os Tupis de São Vicente, que são além dos Tamoios do Rio de Janeiro, nunca pronunciam a última consoante no verbo afirmativo, ut pro Apab, dizem, Apâ, pro Acêm, e Apên, Acẽ, Apẽ, pronunciando o til somente, pro Aiur, Aiú.

E assim adita alguma parte das sobreditas pronunciarão, Apáne, Acéne, Apéne, Aiúne, Apátemo, Acétemo, Apámo, Apámeimo.

Nas consoantes c e g comumente todos pronunciam de uma mesma maneira interposto i ut Acepiâc, Acepiâcine, Aimeéng, Aimeénginé, et sic in reliquis temporibus ut suprā.

No temó, ou meimó, ou , etc., mais parece que se sofre o concurso, maxime do c e g ut Acepiâctemo, Aimeêng meímo.

Mas o universal uso, maxime em verbos compostos com outros verbos, ou advérbios, etc. é tirar-se a última consoante do primeiro verbo, ut Acepiâc, Aipotâr, composto Acepiâ potâr, Aimeêng, Aicuâb, composto Aimeên cuâb.

Com Advérbio

editar

Acepiâc catú, composto, Acepiâcatú, Aimonhang Memoã, composto, Aimonhã Memoã, et sic in cæteris consonantibus b, m, n, r ut supra, Apâ catú, Acẽ gatú, Apẽ gatú, Aiú catú.

Nomes com a preposição Pè

editar

O mesmo concurso se evita em nomes que têm o acento na penúltima, com a preposição, , que quer dizer in, os quais perdem a última vogal, ut ôca, casa, ôcipe, em casa.

Este i áspero, ainda que se ache escrito e vel u é o mesmo: porque pela dificuldade que há na pronunciação dele o que mais se enxerga, maxime nos que não são naturais, é e vel u, ut Ôca, ôcupe pro Ôcipe, ánga, ángeme pro ángime, Acepiâc, cepiâceme, pro cepiâcime.

P, m, mb, muitas vezes se usam uma por outra, desta maneira, que as dições in principio tomadas absolute se pronunciam com m vel mb, ut vel mbó, manus. Precedente o genitivo, ou adjetivo muda-se em P ut Pedro pó, Petri manus, Xépò, mea manus. Excipe, mbaê, que nunca se muda, ut xémbaê, mea res, Pedro mbaê, Petri res.

Da mesma maneira o P in medio dictionis, fica em mb posto absolute in principio, ut Abâ, acabo-me, Mbába, acabamento, pro Paba, etc.

Conforme a isto nunca se pronuncia B in principio dictionis sem m e posto que por incúria se escrevesse sem m sempre se lhe há de prepor, ut pro Baê diz-se Mbaê porque precedente o genitivo, ou adjetivo não lhe é sofrível pronunciar-se sem m ut xébaê, senão xembaê: ou se há de pronunciar m somentes, ut maê, mobĩ vel mbobĩ, morú vel mború, etc.

No meio da dição também se põem b post m e é mais comum pronunciação como nos verbais Timára, Timàba, Timbára, Timbába.

Nos verbos compostos com e in fine, ut Acêm, Acemê, Acembê.

Em nomes compostos, nos quais se tira a última vogal do primeiro, ut nhauúma, barro, oca, casa, nhauúmóca, nhauúmbóca, casa de barro.

Nos pretéritos.

editar

Tetama, Tetamboéra, pro Tetamoéra, etc.

D in principio dictionis nunca se pronuncia sem n atrás, ou n somente tirado o d ut ndé vel né', tu, naçói vel ndaçói, não vou, e não yxé daçói.

No meio da dição mete-se d post n e é mais comum pronunciação ut.

Nos verbais, pinàra, pindàra, pindába.

Nos Pretéritos, ut ména, mendoéra, pro menoéra.

Nos verbos compostos com e in fine, ut Anhân, Ancbanê, Anhandê.

Em nomes compostos pode-se interpor, ut usus docebit, ut Amána, iba, Amánibâ, Amándibâ.

Se o seguinte nome é dos começados por t que se muda em r, o mais comum é por-lhe d, ut mèna, tuba, méndúba.

B, P in medio vel fine dictionis, quase sempre se muda em m u mb quando precede na última sílaba til ou m ou n, ainda que esteja o n no fim da penúltima, ut Anga.

Nos gerúndios e supinos, ut Ainupã, Nupãmo, Airumô, Yrumómo, Amanô, Manómo. Todos estes pela regra geral houveram de dizer bo.

Nos verbais ou particípios, ut ynupãbíra, yrumombíra, ymomanombíra. Todos houveram de dizer pela regra geral píra.

Nos verbais que perdem o ç, ut nupãçâba, nupãma, tecotebẽçâba, tecotebema, apiticâba, apitĩàma, çaró çaba, çarõ áma, mopaũ çaba, mopaũ àma, ma pro ba.

Nos pretéritos, ut , timboèra, teõ, teomboéra, nhũ, nhumboéra.

Com preposição , ut , Timè, Amâ, Amâme, paranâ, paranâmè, ánga, ángimè, mána, mánime, pro .

Nos compostos, ut paranâ, pôra, paranambóra, composto, omanó, morrem, , todos: omanômbâ, morrem todos, pro , et sic de reliquis.

Nos feitos ativos com mo, ut apâb, aimombâb, pro aimopâb.

R muda-se em n onde preceder til, m ou n, in ultima syllaba, ut in futuro conjunctivi, nupã, nupâneme, pro nupãreme, irumô, irumôneme, et sic de cæteris ut suprā.

Nos particípios em çára no presente quando perdem o ç, ut çarõçára, çarõána, irumoçâra, irumoána, etc.

No futuro podem ter r ou n, ut çarõanáma, çarõaráma, etc.

Nos formados em amo, ou no futuro, ut , tĩnamo, tĩnáma, pro tĩramo, tĩráma.

Nos futuros dos verbais que têm mi, ut minupã, minupãnáma vel ráma, estes o uso os ensina: por que também algumas vezes o r serve por n, ut ibârèma, çapôréma pro nema.

E nos verbos compostos, ro e no são o mesmo, ut Açêm, simples, Anoçêm vel Aroçêm, compostos.

C com zeura, onde não se muda em r item x, comunica-se muitas vezes com o nd precedente, m in ultima syllaba, o qual se faz comumente nos verbos neutros feitos ativos com mo, ut açô, amondô, oçôc, omondôc, pro omoçôc.

Se o verbo é repetido não se muda mais que o imediato ao mo, ut oço çôc, omondo çôc x ut mixuú, minduú.

C sem zeura, ou que qui, que é o mesmo, comumente se muda em ng precedendo m, n ou til, como nesta composição dos verbos neutros , mo, ut aicô, aimoingô, aquêr, amonguêr, quiâ, aimonguiâ

Item noutras dições compostas, ut Aîn, catú, composto aingatú, airumô, airumongatú, amanô, amanóngatû, ainupã, ainupãgatú, etc.

T comumente se muda em d precedendo til como nos verbais em ára, ába, ut Cenoĩ, Cenoĩdara, cenoidaba, pro tára, tába.

E nos compostos com mo, ut atúi, amondúi, vel amotúi.

Em todas estas regras pode haver alguma exceções que se aprenderão com o uso, maxime nesta última de t com nd em que é rara a mudança.

Nha, ya, et sic in aliis quattuor vocalibus se usam um por outro, ut nhandê, yandê.

Salvo quando se encontram com outros vocábulos qure têm diversa significação, ut nhũ, campo, , espinho, posto que estes melhor se escrevem com j jota ut , jára etc.

Oa, oe sempre são monossílabos, ou contratos se são simples precedente consoante, ut coára, poéra dissílabos. Nos pretéritos também se escreve ue como oe composto, ut ocuéra timbuéra etc.

Excipe coéma, moéma que são trissílabos, et si quæ sunt alia.

O, quando é artigo do verbo, ou recíproco, claro está que faz uma sílaba por si só, ut Aâr, oâr, oâra.

V consoante não se acha conforme a comum, e melhor pronunciação salvo nos que mudam o b em v como os galegos, ut pro abâ, dizendo avâ.

Conforme a isto, , são dissílabos, ut apuâm, acuê, trissílabos.

Excipe os verbos acabados em u, os quais no gerúndio e particípios são contratos, ut amopú, mopuábo, mopuára, mopuába, trissílabos, , vábo, vára, vába, dissílabos.

Nota que nestes acabados em u precedente vogal se interpõem g e melhor pronunciação e mais fácil, ut guábo, guára, guába, aimombeú, mombeguábo, mombeguára, mombeguába.

E assim os que têm gua, não somente nestes gerúndios e verbais, se podem escrever com u ficando sempre contratos, como apud nos Água, e assim se hão de pronunciar. Mas também em todas as mais dições de maneira que ora se escrevam com oa, ora com , sempre são contratos, ut jaguára, vel jagoára, trissylabum.

Alguns que se pronunciam dissílabos é porque se muda o c em ng ut supra, e assim como tendo c são dissílabos, assim também com ng ut micuába, minguába, quadrisyllabum.

Este nome unguá é trissílabo, et si quæ sunt alia.

Ca, co, cu pronunciam-se sem zeura, como no português carne, copo, curo, ut oca, aicô, aicuâb. Aliter hão de ter zeura para que soe ut ça, ço, çu, açaçâb, açô, ayoçúb.

Ce, ci hão de se pronunciar como se tivessem zeura como no português cera, cidra, ut acêm, acĩc.

Excipe os compostos que se hão de pronunciar sem zeura, ut óca, etê, compostos detrata a última vogal de oca, diz ócetê, e por isso comumente se escrevem um tamaninho distintos.

Item na conjugação onde acrescentam e vel i, ut acepiâc, acepiác eme, cepiác i, necepiàc i, pronunciam-se sem zeura.

Os mais hão se de escrever com que, qui: e pronunciar sem fazer caso do u líquido, como no português quedo, quita, vt aquêr, quìba.

Ga, go, gu pronunciam-se como no português gato, gota, gula, vt ànga, àmoingô, amongúb.

Ge, gi, pronunciam-se como no português gesto, gibão, vt augê, agĩb.

Excipe os compostos, e os da conjugação, como se disse nos do ce, ci, que se pronunciam como no português guerra , guitarra , vt àngaetê, àngetê, aimonhàng, monhàngeme, monhangi.

Que pronuncia-se ou monossílabo, sem fazer caso da líquida, ou dissílabo, conforme aos simples de que se compõem, vt aquér, aimonguér, monossílabo, acué, aimongué, dissílabo.

Estes dois simples aimonguetâ, tigué se pronunciam como guerra, et si quæ sunt alia.

Qui se pronuncia exprimindo o u líquido, como em latim pinguis, vt guirà.

Excipe, aimonguĩ, açamonguĩ, que se pronunciam sem o u líquido, como guitarra.

E se alguns outros se pronunciam sem o u líquido é por que são compostos de qui que se muda em ng como se disse acima do c sem zeura, ut quiá, composto aimonguiá.

E se algum é dissílabo, é porque também seu simples ou é ut ocúi', composto oimongúi, ocuî, composto oimonguî.

Conforme a esta ortografia e pronunciação onde quer que se achar i vel ípsilon in principio dictionis ante outro i sempre é vogal que é o relatiuo is, ea, id, de quo infra, e o seguinte i também será vogal se se lhe seguir consoante, ut ijra, e seguindo-se vogal o seguinte i será consoante, ut jára, ijára, e geralmente qualquer vogal que se seguir ao i em qualquer dição sempre é o i vogal sendo relativo, ut,

A. fruta. , eius fructus.
E. dicere. , eius dicere, vel dictio.
O. tapar. , id occludere.
V. comedere. , id comedere.

Seguindo-se a, o, u não sendo relativo sempre é consoante ut jára, jógua, dissílabos, , monossílabo.

Seguindo-se a vogal, melhor precede ípsilon, e pronuncia-se como em castelhano ya, ye, vt yeçóca, etc. Do qual se disse em cima que se vsa às vezes por nh com todas as vogais, e ainda que ya no afirmativo seja consoante, contudo no negativo precedente consoante fica vogal, ut nhamanô, vel yamanô, negativo nyamanói. Mas nisto vai pouco, por que se confunde sœpissime com i jota, e cada um o pronuncia mais português ou castelhano como quer vt ja, ya, etc. e finalmente mais universal pronunciação é a do y que a de nh segundo as letras que se seguem, vt amanô, nhamanô, vel yamanô, açô melhor diz yaçô, etc.

Comumente os nomes começados por i vogal quando se lhe prepõem o relativo metem outro i consoante propter concursum, vt itâ, pedra, i ijtâ, eius lapis, ipî, principium, i ijpî, eius principium.

O mesmo fazem alguns in fine dictionis compondo-se com outro i ut camurî, robalo, ĩg, rio, composto camuriiĩg, rio de robalos.

Este nome jrũ, o mesmo i que tem lhe serve de relativo e nunca o perde, ut jrũ, socius e eius socius, xe irũ, meus, oirũ, etc. O mesmo guarda o verbo airumô, composto dele.

Também alguns verbos se hão de escrever com dois ij, um consoante, outro vogal depois do artigo & não com gi, ut aijquî, aijbõ. Porque tendo o acusativo expresso, ou o recíproco e outras partes, (ut infra latius) perdem o primeiro i ut pirá ibómo, peixe frechando: e se se escrevera com gi houvera de dizer piragibómo.

E tendo o relativo, ainda que pela regra, houvera de perder o i primeiro, contudo o retém propter concursum, vt i ijbómo, eum sagittando.

I vogal, que em muitos vocábulos se pronuncia áspero com a garganta, bem se lhe põe escrever g in fine acabando-se a dição no mesmo i porque compondo-se com outra dição começada em vogal exprimitur g ut j, Rio, atã, direito, composto diz jgatã, Rio direito.

In medio dictionis não se sofre, porque quem não sabe, a língua pronuncia muda com líquida, vt imondopira, dirá imondopígra.

E encontrando-se com qualquer consoante no meio ou no fim, fará hum concurso muito áspero de consoantes, ut tigba, agîgb, etc. E nem com isso o há de saber pronunciar de qualquer modo que se escreva se não for ouvindo-o viva voce.

Por isso pera conhecer ser este i áspero se escreve com um ponto em baixo e ficará jota subscrito i porque faz muito diferente significação do, i lene, ut j água, com i áspero, j îs, ea, id, com i lene, ayopĩ, tanger trombeta ou flauta, ayopĩ, picar uma vespa. Ou se há de deixar ao uso porque alguns muito bons línguas, ou não podem pronunciar: mas ex adiunctis, se entende o que quer dizer.

Ia, com i áspero, comumente é dissílabo, ut piá, fígado, abiàr.

Excipe apiába, capiába, trissílabos, ibiá, dissílabo, e si quæ sunt alia.

Item todos os gerúndios e verbais em âra, âba, ut ayábĩ, eu erro, gerundio abiábo, verbais abiára, abiába, trissílabos.

Ia, com i lene comumente ée contrato, e monossílabo, ut arobiár, trissílabo.

Alguns nomes se tiram, que o uso ensinará, ut piâ, filho, potiá, jundiâ, tapiá, çupiá, piũ, yatiũ, et si quæ sunt alia.

Todas as dições acabadas nas quatro últimas vogais têm o acento na última, e notam-se com circunflexo.

Algumas acabadas em e que parecem ter o acento na penúltima é por terem compostas, ut icatûpe de icatû e , nhóté, oetépé.

As acabadas em a partim na última, e notam-se com o mesmo acento, ut tatá, partim na penúltima, e notam-se com o agudo, ut óca.

As monossílabas com acento grave, ut , , nhò, nhú, etc.

Os verbos pela mayor parte têm o acento na última em qualquer consoante ou vogal que se acabem, ut ajucá, amondéb, etc.

Os mais dos acabados em i præcedente vocali têm o acento na penúltima, ou se hão de chamar contratos, ut acái, aiucéi.

Alguns poucos ha acabados em u præcedente vocali com acento na penúltima como estes passados ou sejam contratos, ou ditongos: e estes comumente são feitos de outras dições, ut aimongarâu, xe éu, xe iáu, xe ióu, xe péu, etc.

Do Cremento.

editar

Cremento há não somente nos verbos, mas também noutras partes da oração porque todas se podem conjugar como verbos. Quer as dições tenham o acento na penúltima, quer na última, ee não crescem mais que uma só sílaba, ou se crescem duas com a penúltima breve, se notam com acento agudo, ut óca, ócamo, tatá, tatáne, tatáreme, aimondô, aimondóne, mondôreme.

Se crescem mais de uma sílaba, com a penúltima longa, claro está que nela se há de por acento agudo, ut tatá, tataráma, tataramboéra, óca, ocoéra, ocoáma.

No cremento dos tempos até o futuro do conjuntivo, exclusive, pode ficar o verbo com seu acento natural que tem no presente do indicativo, e por-se outro no cremento porque este pode se apartar do verbo futuro, aimondônè.

Vt Aimondô, eu mando, Imperativo, eimõdôvmè, Optativo , aimondô temomã, Conjuntivo, taimondô umé, Pretérito imperfeito, aimondômò, aimondômomo, aimondômonemò, aimondômeémo.

Quando os que têm acento na penúltima perdem a última, notam-se com seu mesmo acento agudo, e não com grave, e circunflexo, ut tecoára, tecoár, xerúba, xerúb.

Nas composições que são muitas se pode conservar o acento de cada um, ut de verbos com verbos, açó, vou, aipotár, quero, açôpotár, ir quero e na conjugação não se varia mais que o último ut açôpotane, açôpotâmo.

Nomes com nomes, vt Abá, homem, catú, bom, Abacatú, ôca, casa, catú, boa, composto ocatú.

Nomes com verbos, ut teçá, olho, aicotúc, furo, composto Ateçácotúc, píra, pele, composto aipícotúc.

Os que têm acento na penúltima perdem a última vogal ou sílaba na composição, e assim hão de levar sempre seu acento agudo, ut ócatú, aipócotúc.

Quando se achar acento grave na última nalgum cremento ou composição, entenda-se ser monossílabo, e atrás há de ficar o acento natural que tinha, ut açô, çôreme, córemenhè, çóremepè, e às vezes se põem dois monossílabos, ut çóremenhépé, ycatú benò, etc.

Isto das letras, ortografia, pronunciação, e acento, servirá para saberem pronunciar o que acharem escrito, os que começam aprender: mas como a língua do Brasil não está em escrito, senão no contínuo uso do falar, o mesmo uso e viva voz ensinará melhor as muitas variedades que tem, porque no escrever e acentuar cada um fará como lhe melhor parecer.

As mudanças das letras que ficam atrás servirão para não se repetir adiante uma coisa a cada regra pro que a estas hão de recorrer. Posto que sempre há algumas exceções, que o uso ensinará.

Os nomes não têm casos nem números distintos salvo vocativo, com esta diferença, a saber, que os que têm acento na última, nada mudam, ut abá, em todos os casos. Os que têm na penúltima perdem a última vogal no vocativo, vt túba, túb, xérúba, xérúb vel xérúp, xéraira, xerair vel xérait.

R, T comunicam-se in fine, pondo t pro r ut in præsenti exemplo, e também nos verbos, ut aiûr, aiût, mas na conjugação não se faz caso do t senão do r.

Este nome, guà vel ibià vel ibà, serve de suposto vago no plural nas terceiras pessoas por que não fique a oração sem suposto, como quando dizemos dizem, vão, irão, etc. que no português se diz bem, qua acrescentam-lhe este suposto, ut eygúa, dizem, oçôgua, vão, oçôguàne, irão e sic ibiá, ibá.

O plural se entende pelo que se trata, ou também acrescentando-lhe alguns nomes, que significam multidão, como, todos, tantos, quantos, muitos, etc. E este último é o usado para isto que é cetâ, e detrato c etâ, vt abà, homem, ou homens, abàeta, homens, oca, casa, vel casas, ócetà, casas.

Da composição dos Nomes.

editar

Os nomes substantivos se compõem, com adjetivos, precedendo sempre os substantivos, e se têm acento na última ficam inteiros, ut mbaécatú, mbaé aĩba, nhungatú, nhúaìba.

Se têm acento na penúltima, e encontram com vogal perdem a última vogal, ut túba ete, tùbetè, pai verdadeiro.

Se encontram com consoante perdem toda a última sílaba, ut túba, catú, túcatû. Se a consoante seguinte é t vel ç com zeura dos que se mudam em r sempre se perde o ç fica como que encontrasse com vogal, ut túba, cetâ, túbetâ, abâ, cetâ, abâetâ.

Substantivos com substantivos, com a mesma mudança.

1. A primeira de letras se compõem de três maneiras, a primeira sendo aposto, e nesta sempre precede o nome mais usado, e universal, e genérico, ut

Mbaê, coisa Mbaêtatâ, coisa fogo, coisa que é toda fogo.
Tatâ, fogo

Mbaê pirâ, coisa peixe.

Sendo ambos iguais, ad libitum, vt guirâ iagoára, ave cão, jaguáguirâ, cão ave.

Nesta maneira de aposto não se perde o t como consta do exemplo, mbaêtatâ, porque perdendo-se significa não coisa que é toda fogo: senão coisa que tem fogo, mbaêatâ, mbaêtobâ, coisa que é toda rosto, mbaêobâ, coisa que tem rosto. Também pode ser genitivo possessivo, ut cãoîatâ, por cãoîratâ fogo de vinho, i com que se coze o vinho.

2. A segunda, se significam matéria, sempre precede a matéria, ut jtâ, ferro, pindâ, anzol, jtâpindâ, anzol de ferro, jtavúba, jtâatĩ etc.

3. A terceira, também se pode fazer quando o precedente é genitivo, se tem acento na penúltima, ut , mão, jaguápô, mão de cão, por jaguárapô, óca , casa , jtâ, esteio, ócitâ, esteio de casa. jaguâra, tobâ, jaguárobâ, ména, marido, tûba, pay, ménúba, sogro, mendúba, interposito d ut supra.

E ainda se soem compor tendo o precedente acento na última, ut cunumî, menino, téra, nome, cunumîéra, pro cunumîréra, pueri nomen, usus docebit.

O mais certo é que quando há esta composição de genitivo possessivo, mais quer significar coisa que tem, que o próprio genitivo, maxime nos que têm o acento na última, e o segundo há de perder o r ut Abâ, pessoa, Tobâ, rosto, Abâobâ, pessoa que tem rosto, ou alguma particularidade nele: Abârobâ, propriamente, hominis vultus.

Quando se significa alguma idade, ou tempo em que se fez alguma coisa, melhor se diz sem r ut no exemplo de, cunumî, que quer dizer menino, e idade de menino, xécunumîéra, o nome de minha meninice et sic de alijs etatibus, xerecocatûéra, o nome de minha virtude, i. do tempo da minha virtude.

Os numerais não chegam mais, que até número de quatro, e estes comumente se prepõem ao substantivo, ut.

1. Oiepê. Abâ, homem, homens.
2. Mocóỹ
3. Moçapîr.
4. Oyoirũdîc.

Também se podem pospor fazendo divisão, ut.

Moçapîr abâ oûr, três pessoas vieram.
Mocõi apiâba, dois machos.
Oyepê cunhã, uma mulher, vel.
Apiába mocõy, machos dois.
Cunhã ôyepê, fêmea, uma.

Estes adito a in fine ficam ordinais, e têm seu caso atrás em todas as pessoas e números, como genitivo, possessivo, ut.

xèmocõya. secundus à me.

xemoçapíra, tertius à me.

pero moçapíra, tertius à Petro, vel tertius Petri.

ymoaçapíra, tertius ab eo, vel ab eis.

Abâ mocõya, o segundo das pessoas, etc.

Sic mobîr, quot ymobíra, quotus eorum.

Os prepostos que têm acento na penúltima, se se põem inteiros têm a mesma significação de ordinais, ut ára, dia, moçapîr, três, ára moçapîra, dies tertius.

Se perdem a última sílaba querem dizer três, juntos, dois, quatro, ut ámoçapîra três dias juntos. Apiábamoçapîra o terceira dos homens, Apiámocapíra, três homens juntos, posto que estes últimos também podem servir de ordinais.

Se têm acento na última os prepostos, como não há de perder nenhuma letra, significa uma coisa, e outra, ut Abâmoçapîra, o terceiro dos homens, ou homemque tem três em si.

Para significar os outros ordinais additur este vocábulo çoára, ndoâra, yxoára, que todo é um no fim dos outros nomes, ou preposições, que quer dizer, estante, ou pertencente, ut Tenondé, diante, Tenondêçoára, o que está diante, Taquipoéri; detrás, Taquipoérixoára, o de trás, etc. , dianteira, Tĩmendoara, o da dianteira.

Nos futuros também do subjuntivo se põem para significar quando, e para quando, ut xèçóremendoâra, o tocante a quando eu fui.

Pretérito, xeçóremendaroéra.

Futuro, xeçóremendaráma, para quando eu for.

Outras maneiras há também dos verbais em ába, mas fique pera o uso.

Os mesmos nomes, servem por advérbios, mas na construção se conhecem, ut catú, bom, e bem, poxĩ, mau, e mal, e estes comumente se pospõem, ut Aicócatú, vivo bem, Aicópoxĩ, vivo mal.

Oyepê, um, e uma vez.
Mocõy, dois, e duas vezes.
Cetâ, muitos, e muitas vezes.
Mobîr, quantos, e quantas vezes.
, tantos, e tantas vezes.

Estes numerais melhor se prepõem, ut oyepêaçó uma vez fui.

Os outros advérbios de outras sortes, facilmente mostram sua construção pelo uso, com as mais partes da oração.

Os pronomes têm alguns casos,ut Ego.

Nominativo yxé, Ego.
.
Dativo yxébe, Mihi.
yxébo,
xébe,
xébo.
Plural.
Nominativo Orê, nos.
Yandê.
Dativo orébe, nobis.
orébo,
yandébe,
yandébo.
Tu.
Nominativo Endé, Tu.
Ndé,
.
Dativo Endébe, Tibi.
Endébo,
Ndébe,
Ndébo.
Plural.
Nominativo Peẽ vel . vos
Dativo Peẽme vel Pẽémo.
Acusativo Opô vel .
Vocativo Peẽ vel .

Construção destes pronomes.

editar

, Ndè vel , , são também adjetivos como meus, tuus, vester, etc. xèjára, meus dominus, ndèjára, tuus, pèjára, vester.

Item servem a todos os casos, e a todos os tempos da conjugação indifferenter: tirando o dativo, quem tem próprio.

yxê, endê, peẽ sempre são substantivos, servem de supostos em todos os tempos que têm artigos, ut

yxê açô, eu vou.

endê ereçô, tu.

peẽ peçô, vós.

Onde o verbo perde o artigo se for ativo também podem ser suppostos, porque necessariamente se lhe há de seguir acusativo, ut,

yxê Pedro jucáreme, se eu a Pedro matar.

ndê Pedro jucáreme, se tu.

peẽ Pedro jucáreme, se vós.

Mas aendo verbo neutro necessariamente se há de repetir o , ndè, , ut.

yxê xècçóreme, se eu for.

ndê ndèçóreme, se tu.

peẽ pèçóreme, se vos.

Repetidos desta maneira também podem ser acusativos em todos os tempos, e modos, ut.

yxê xèjucâ, a mim me matam.

ndê ndèjucâ, a ti te matam.

peẽ pèjucâ, a vós.

Em caso de preposição, ou não se hão de usar, ou se hão de repetir, ut supra, ut.

yxê xèçuî á me.

endê ndèçuî, á te.

peẽ pèçuî, à vobis.

Orô, opô, acusativos não se usam senão nos tempos que têm artigos, quando a primeira pessoa utriusque numeri é nominativo, e a segunda acusativo ut.

yxê orôjucâ, eu te mato.

orê orôjucâ, nós te matamos.

yxê opôjucâ, eu vos mato.

orê opôjucâ, nós vos matamos.

Orê, yandê são também adjetivos noster, a, um, diferem nisto a saber que Orê exclui a segunda pessoa com que falamos daquele ato, de que se trata, ut orê oroçô, nós imos, e tu não, orêmbaê, nossas coisas e não tuas, porém, yandê, inclui a segunda pessoa ut ya ndêyaçô, nós imos, e tu também, yandêmbaê, nossas coisas, e tuas também.

E assim fazem no verbo duas pessoas plurais, ut oroçô, yaçô.

De Acê.

editar

A Mesma declinação tem este nome, Acê, ut.

Nom. Acê. datiuo. Acébe, vel Acébo. Significa, homem, quando dizemos , diz homem, faz homem, e assim é a terceira pessoa, e serve a ambos os números, e a macho, e fêmea, vt oçôacê vai homem.

Na construção quando é acusativo, prepõem-se imediato ao verbo, assim como , orè, yandê. E por todos serve, ut Acê jucâ, a homem matam idem a mim, a nós, etc. deixadas outras significações quæ non sunt huius loci.

Do Pronome Relativo, e Recíproco.

editar

C Com zeura, e j. são pronomes relativos em todos os casos e números, significam is, ea, id.

O é recíproco, Suus, sua, suum, se, sibi.

De qui, quæ, quod se dirá abaixo porque é o mesmo que os particípios.

Construção mais particular dos Pronomes e Nomes.

editar

Na construção (exceto o nominativo, e dativo, que se põem indifferenter) sempre se prepõem o pronome, sive substantiuo, sive adjetivo, ut xéjucâ, a mim matam. orê, yandê, ndê, , jucâ, xèjára, meus dominus, xérecê, me propter et sic de cæteris, ut yjucâ, eum occidere, yjára, eius dominus.

O mesmo tem o genitivo cuja é a coisa, e caso com preposição de todos os nomes porque todas as preposições præponuntur, ut pedro jára, petri dñs Pedro recê, Petrum propter.

Do relativo, ç.

editar

Os nomes começados por t têm por relativo ç com zeura, e preposto o adjetivo , ou genitivo o mudam em r e com o recíproco se perde, ut.

Tetê corpus, absolutè.

Cetê, eius, eorum, vel earum corpus.

Xéretè, meum corpus.

Pedro retê, Petri corpus.

Oetê, suum corpus, vel Ogoetê, porque se soe interpor go ou g somente onde o se encontra com outra vogal propter concursum, e é melhor pronunciação.

Alguns há que não têm t mas somente ç. com zeura, e sempre se ha de mudar em r etc. ut supra Cecê, eum propter, xèrecê, etc. fazem-se absolutos com porô, vt infra latius, pórecê, vel porôecê.

Outros há que incluem no t assim o absoluto como o relativo, ut.

Túba, pater, e eius pater.
Xèrúba, meus pater.
Peró rúba, petri pater.
ógúba, suus pater.

Estes são poucos s estes ferè.

Túba, pater.
Tamũya, Avus.
Taîra, filius,
Tagíra, filia.
Tiquiîra, frater maior.
Tibìra, frater minor.
Tiquéra, soror maior de fêmea.
Tatuúba, sogro.
Taixô, sogra ( posto que estes dois melhor dizem com ç).
Tubixába, príncipe: este também pode ter ç.
Tinicêm, cheio.
, água, sumo, ou caldo.
Ticû, ralo, liquor.
Tínga, branco, este não muda o t em r.
Turuçû, grande. Deste não se usa senão na terceira pessoa, composto com partes que têm o acento na última diz, goaçû, ut pirâgoaçû, peixe grande; com partes que têm acento na penúltima, ou verbos acabados em consoante, ou vogal com acento na penúltima, diz uçû, ut.
ôca, casa, ócuçû, casa grande.
Arûr, trago, Arurúçû, trago muito.
Ayopói, dou de comer, Ajopóiuçû.
Xepéu, tenho matéria, xepéu úçû, etc.

Pera as outras pessoas serue ceburuçû, ut.

Xèrubúruçû, eu sou grande.
Nderebúruçû, tu.
Cebûruçû, elle, &c.

Alguns acrescentam ça inteiro, ou ç somente não o tendo o simples, ut , caminho, çapê eius via, óca, casa, com seus compostos, çóca, eius, uúba, flecha, çuúba, etc.

Estes seguintes acrecentam ce inteiro, ut.

Nhaẽ, cum compositis Panacũ.

Nhauúma, Moéma, também tem, temoéma.

Ce Nimbô, Ce Mbetára, também Tembetára.

Cúya, p Urû, cum suis compositis

Cujâ faz Cepurû, interposto p.

A todos os começados por mi acrescentam ce inteiro quais são os verbais, e outros que também parece que nasceram de verbo: hæc ferè.

Ce Miapê
Mimõyá
Miára vel Mbiára
Mimoipóca
Mingaû
Mindipirõ
Mixíra

Estes andam mais no uso como nomes simples, mas revera naceram de verbos, e hão de levar ce inteiro no princípio com suas mudanças.

Os verbais todos são absolutos também, ut miìucâ, occisus, cemiíucâ, eius occisus, vel ab eo occisus, e sic de reliquis.

Iíra, sobrinho e eius sobrinho, serve o, i, por relativo, mas preposto o nome, ou pro nome toma r, ut xeriíra, etc.

Dos começados por t que têm i por Relativo

editar

Outros há começados por t que o não mudam nem em ç nem em r mas têm i por relativo; nem perdem o t com o recíproco, ut Tutíra, auunculus [tio materno], y tutíra, eius, xètutíra, meus, otutíra, suus, e quæ sequuntur.

, urina, à diferença de , água.
Tupã, l. Tupána
Tĩapîra Tira
Tapéra Tirâ
Tába Tatenhê, l. Tatê
Tapiía Tatâc
Tîba Tutûc
Tubîra Tibitába
Tenhéa Tén
Tunhábaẽ, Túibaê
Tînga, cousa a que temos fastio Tecoáraîba
Tagaiba Túnga
Tebíra, e si quæ sunt alia.

Tái: este, ainda, que não muda; o mesmo t lhe serve por relativo, se tomar outra letra alguma.

Em nomes de ervas, fruitas, animais, materiais, começados por t, não se muda o t em r, ut:

Tajâ, nome de uma raiz.
Xètajâ, ytajà, otajâ.
Tagoâ, Tobâtínga, nomes de barro.
Xètagoâ, ytagoâ.

Em nomes de animais, não se sói pôr antes o adjetivo, ou genitivo, ut Tapiíra, vaca, não se diz xétapiîra, minha vaca, senão xéreimbâba tapiîra; pirâ, peixe, pira não se diz xépirâ, senão xérembiara pirâ.

Est autem mimbába, qualquer animal manso que homem cria, ou amansa e præposto o relativo diz Ceimbába, com suas mudanças de letras, ut xereimbába oeimbaba.

Mbiàra, da mesma maneira, quer dizer, preza adito Ce por relativo, ut Cembiára, xerembiára oembiára.

Alguns outros nomes há que guardam o mesmo, mas têm subintelecto [subentendido] o adjetivo meus em todos os casos ut , minha mãe. O macho chama à irmã peĩ, guaupíra, minha irmã, e à menina sobrinha, itô, titô, guaitô; a irmã ao irmão, , guaiâ; o pai e mãe ao filho macho piâ; ao pai ou senhor, paî; a fêmea a sua senhora, ou qualquer mulher honrada, Tapê, o macho, Taupê; qualquer mulher diz guaîa, mano, ou meu mano; uma mulher à outra quĩ, quinaĩ, naĩ, mana, minha mana e alia que deve d'haver desta forma.

Todos os mais maxime vocando nunca se põem sem o adjetiuo meus, noster, expresso, vt pai, mestre, tio, mãe, etc., xèrúb, xemboeçára, xètutir, xecìg, etc.

O senhor, o pai, o mestre, etc., faz, dizem Acêjára, o senhor de homem, e não jára somente, senão quando de si mesmo são absolutos, o qual se faz com m: morô, ou t, vt mbò, amão, moroboeçára, o mestre, teçâ, olho.

E quase todos os nomes se podem fazer absolutos com morô, ut jára, Senhor, pode dizer morojára sem lhe por acê antes, mas isto não é tão usado em nomes como em verbos e nos verbais ou participios que nascem deles, vt morómboeçára.

Isto há lugar onde é como possessio rei, ut pater exemplis, meu senhor, meu mestre: porque onde isto não há absolute se põem, como: o ladrão, mondâ; o mau, Angaipába; o fugidor, Canhẽbóra.

Os começados por t que significam partes do corpo ou cousa tocante a homem quando são absolutos se entendem comummente de homens, ut

Tetê, absolute quer dizer corpo humano.
Toô, carne humana.
Teçâ, olho humano.
Teomboéra, cadáver humanum.
Teiía, ajuntamento de homens.

O mesmo é nos de parentesco, ut tamũya, absolute, avô de homens, teindíra, irmã.

Alguns começados com ç com zeura não mudam em r mas têm i por relativo, depois do qual, assim nos nomes, como nos verbos, sempre se segue x em lugar de ç, ut:

Cîg, mater
xècì, mea mater.
yxì eius mater.

E com o recíproco não perde o c, ut óci, sua mater.

Estes são poucos, hæc fere , Ciîra, Cibâ, Círa, çáma, çuguáragî, çuguánãhéya.

Nos verbos exemplo, que são todos os neutros que têm artículo, etc., depois dele, ut Açô, yxóu, yxó, reme, pro yçóu, etc.

De maneira que assim estes que não mudam como todas as mais partes (tiradas as sobreditas começadas por t ou ç que o mudam em r) têm por pronome relativo y, ut ába, capillus, yába, eius capillus, oába, suus capillus.

Catû, ycatû, ocatû, , ypô, opô.

A mesma mudança de letras se guarda nas preposições e verbos, ut:

Tobaquê, coram.
çobaquê, eo coram.
xerobaquê, me coram.
Oobaquê se coram, l. ogobaquê.

Estas três seguintes não mudam o ç em r mas têm i com x por relativo, ut:

çuî, yxuî, xèçuî, oyocuî, l. oyeçuî.
çocê, yxocê, xecocê, oyoçocê,
çupê, a. de dativo, yxugê,ei, pedro çupê, petro, oyoupê l. oyeupê, sibi. Não se diz, xeçupê, mihi.

Nem nos mais pronomes da primeira e segunda pessoa porque têm dativo próprios: s., xébe, orébe, yandébe, peẽme, ut supra.

Nestas seguintes também em lugar do recíproco o se põem oyô, ut Cecê, eum propter, xerecê me propter, oyocê, se propter, pro oecê. Pupê, in, oyopupê, l. oyépupê, l. opupê.

Servir esta partícula, , nestas preposições de recíproco o não lhe tira sua própria significação que tem em todas as dições, que é ser recíproco adinuicem, onde a linguagem o sofrer, ut:

Mbaê, cousa.
Orê yombaê, yandê yombaê, nossas cousas mútuas.
Pèyombaê vossas cousas.
Y yombaê ipsorum res.
O yombaê suas cousas.

Nas preposições çuî, ex, oréyoçuî, ex nobis inuicem, e sic in reliquis.

E na terceira pessoa pode servir a todas as pessoas e números, ut, assim como dizemos orê yombaê, orêyoçuî, assim dizemos oyómbaê.

yarecô oyombaê, temos as cousas nossas mútuas, pro yandê yombaê.
yayepeâ oyoçuî, discedimus ab inuicem, pro yandêyoçuî, e sic in reliquis personis.

Do uso do Recíproco O

editar

Do Recíproco O que é, se, suus, a, um, se usa simpliciter quando se refere a oração à pessoa agente como na língua latina, ut:

Pedro ojucâ ogúba, Petrus occidit suum patrem.

Nestas orações simples não há duuida. Havendo dois verbos numa oração, que fazem como duas orações dependentes uma da outra, sempre se há de ter respeito ao principal verbo da oração, e ao suposto dele se há de referir ao recíproco se vel suus, ut: "Pedro vai porque eu o mando, porque tu o mandas, porque seu pai o manda", etc.: em todas estas se poem o reciproco, e não i nem ç relativos. Ut yxé omondóreme.

Pedro açô endê omondóreme, ogúba omondòreme, e não ymondóreme.

Porque Pedro é a principal pessoa desta oração: quasi dicat Petrus it, quia ego se mitto, quia tu se mittis, quia suus pater se misit, i. ipsum Petrum, porque o principal verbo destas orações é Pedro foi e dele necessariamente se há de entender o reciproco se e suus.

Nestas orações, ainda que as primeiras e segundas pessoas sejam as principais partes delas, claro está que há de usar do recíproco, porque é terceira pessoa, ut: Amo a Pedro, porque ama a seu pai, Açauçûb pedro, ogúbarauçúme, e sic incæteris primis et secundis personis utriusque numeri.

Mas sendo ambas terceiras como nesta, Ioãne Pedro oçauçûb, ogúba, rauçúme, Ioãne ama a Pedro porque ama a seu pai, pode-se referir "seu pai", assim a Pedro, como â Ioanne, mais o mais certo é referir-se ao Ioãne porque é o principal supposto da oração.

Conforme a isto, algumas orações que no latim sofrem suus não se sofrem cá com recíproco senão com relativo, ut ſua virtus Petrũ commendat, ceco catû, Pedro, oimombeû, e não oecocatû, porque Pedro não é a pessoa agente na oração.

Para o reciproco em si mesmo serve ye, de que se faz o que chamamos passiua licet in propriè, ut oiucâ, mata, oyejúcâ, se occidit, oyejucáçâra vel oyejucâbaê, sui occisor.

O mesmo se pode fazer nos nomes substantiuos si usus tulerit, ut est sibi suus pater, sua mater, etc., Túba, oyeúbamo cecóu, oyecíramo cecou, ou usar simplesmente do recíproco O, ut ogúbamo cecóu, ocîramo cecóu, etc.


Ainda que todos os verbos tem [tenham] uma só maneira de conjugação, contudo podemos dizer que têm duas porque o negativo acrecenta algumas partículas, que sempre têm juntas consigo para se conhecer ser tal, e ambas se porão aqui.

Afirmativo Negativo
Indicatiui modi, præsens, Imperfectum, Perfectum, e Plusquam perfectum
Ajucû Eu mato, matava, matei, havia matado ou tinha morto Najucâi Não mato, não matava, não matei, etc.
Erejucâ tu Nderejucâi tu
Ojucâ ille Nojucâi ille
Plural
Orojucâ, l. yajucâ nós Norojucái, l. diajucâi nós
Pejucâ vós Napejucâi vós
Ojucâ illi Nojucâi illi
Futuro
Orojucâ, l. yajucâ nós Norojucái, l. diajucâi nós
Pejucâ vós Napejucâi vós
Ojucâ illi Nojucâi illi

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/VII

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/VIII

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/IX

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/X

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/XI

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/XII

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/XIII

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/XIV

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/XV

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/XVI

Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/XVII