Cidades Mortas (3ª edição)/O luzeiro agricola

O luzeiro agricola


I

Sizenando Capistrano é inspector agricola do centesimo destricto. Incumbe-lhe estudar, guiar, fomentar a pecuaria, elaborar relatorios, ensinar o uso de machinas agricolas, preconisar a polycultura, combater a rotina e, ao fim de cada mez, perceber na collectoria a realidade de setecentos mil réis.

Antes de inspector Capistrano fôra poeta. Cultivara as musas (não a musa paradisiaca, mas a grega Polymnia); não sabia que cousa era um pé de café, mas entendia de pés metricos, pés quebrados e fazia pés d'alferes a todas as divas do Parnaso. Tal cultura, entretanto, emmagrecia-o. A.sua producção de hendecassyllabos, alexandrinos, quadras, odes, sonetos, poemas, vilancetes, eglogas, satyras, anagrammas, logogriphos, charadas electricas e enigmas pittorescos, comquanto copiosissima, não lhe dava pão para a bocca nem cigarro para o vicio. A pallidez de Caistrano, sua cabelleira á Alcides Maya, sua magreza á Fagundes Vareila, seu spieen á Lord Byron e suas attitudes fataes, ao envez de lhe aureolarem a face de um nimbo de poesia, commiseravam o burguez, que, ao velo deslizar como alma penada pelas ruas, horas mortas, de mãos no bolso e olho nostalgicamente ferrado na lua, dizia condoido:

— Não é poesia, coitado, é fome...

Os editores artilhavam a cara de carrancas más quando Capistrano lhes surgía escriptorio a dentro, sopesando a arroba de versos primorosos candidatos a edição.

— São versos puros, senhor, versos sentidos, cheios d'alma. Virão enriquecer o patrimonio lyrico da humanidade.

— E arruinar o meu patrimonio economico — retorquia a féra. De lyrismo bastam-me aquellas prateleiras que editei no tempo em que era tolo e que se não vende nem a peso.

— O' vil metal! murmurava o poeta franzindo os labios num repuxo de supremo enojo. O' mundo vil! O' torpe humanidade! Em que te distingues, Homem, rei grotesco da creação, do suino toucinhento que espapaça nos lameiros? Manes de Juvenal! Eummenides! Musas da Colera! Inspirae-me versos de fogo onde apúe té os penetraes da alma este verme orgulhoso e mesquinho! Baudelaire, dae-me os teus venenos!...

— Rapazes, berrava o livreiro á caixeirada, ponham-me este vate no olho da rua!

O poeta, ante o manu-militari irretorquivel, tomando a papelada lyrica, muscava-se para a zona neutra da calçada onde, readquirida a altivez ossianica, objurgava para dentro da loja hostil:

— A Posteridade me vingará, javardos!

E sacudia á porta o pó das sandalias, que, no caso, eram surradas e já risonhas botinas de bezerro.

Em seguida, remessando para trás a cabelleira, num repellão, ia fincar-se sinistramente á esquina proxima, em torva attitude, á espera d'um conhecido esfaqueavel a quem extorquisse um nickel com gestos soberbos á Cyrano de Bergerac.

Cançado, porém, de ouvir estrellas em jejum, de amar a lua no céo sem possuir um queijo na terra, acatou a voz do estomago e quebrou a lyra — para viver.

Metteu a tesoura nas melenas, deu tal ou qual brilho aos sapatos com esfregações de cascas de banana, desfatalizou o semblante, substituiu o ar absorto e vago do aédo pelo ar avaccalhado do pretendente e, á força de cartas commendaticias, guindou-se ás cumeadas do Morro da Graça. Todo o mundo o recommendou ao Gaúcho Omnipotente, porque todos andavam fartos daquella permanente fome lyrica a deambular pelas ruas, caçando rimas e filando cigarros. Que fosse acarrapatar-se ao Estado. O Estado é um boi gordo, semelhante áquella estatua equestre de Hindenburgo, feita de madeira, em que os allemães pregavam pregos de ouro. A differença está em que no Estado, em vez de tachas de ouro, se pregam Capistranos vivos.

Foi apresentado ao Pinheirão.

— Então, menino, que quer?

— Um empreguinho qualquer que Vossa Omnipotencia haja por bem conceder-me.

— E para que presta você, menino?

— Eu? Eu... fui poeta. Cantei o Amor, a Mulher, a Belleza, as manhãs côr de rosa, as auroras boreaes, a natureza emfim. Romantico, embriaguei-me na Taverna de Hugo. Classico, bebi mel do Hymeto pela taça de Anacreonte. Evoluindo para o parnasianismo, burilei marmores de Paros com os cinzeis de Heredia. Quando quebrei a lyra, ascendia ao cubismo transcendental. Sim, general, sou um genio incomprehendido, novo Ahasverus a percorrer todas as regiões do Ideal em busca da Fórma Perfeita. Qual Prometheu, vivi atado ao potro da Inania Verba, onde me roeu o Abutre da Perfeição Suprema. Foi um Torturado da Fórma....

O general, que era amigo das bellas imagens, illuminou o rosto de um sorriso promissor.

— Poeta, disse, eu tambem sou poeta. Rimo homens. Componho poemas heróe-comicos. Conheces a Hérmeida? E' obra minha. Amo as bellas imagens. Tenho lançado algumas immortaes. A mulher de Cesar! Os levitas do Alcorão! Hein? Tu me caiste em graça. Acolho-te sob o meu pallio. Que queres ser?

— Inspector.

— ...de quarteirão?

— Isso não.

— Agricola?

— Ou avicola...

— De que região?

— Não faço questão.

— Sel-o-ás do centesimo districto. Conheces as culturas ruraes?

— Já cultivei batatas grammaticaes.

— E de pecuaria entendes? Distingues um zebú d'um gallo Brahima? um matungo d'um murzello?

— Já cavalguei Pégaso em pêllo!

— Conheces a suinocultura? Sabes como se cria o canastrão?

— Sei tricalo com tutú de feijão.

— E's um genio, não ha que ver. Talvez faça de ti, um dia, presidente da Republica. Teu nome?

— Sizenando, Capistrano é sobrenome.

— Cá me fica. Vae, que estás ahi estás fomentando a agricultura como inspector do centesimo districto, com setecentos bagos por mez. Os poetas dão optimos inspectores agricolas e tu tens dedo para a coisa. Vae, levita do Ideal!...

Eis como Sizenando se achou um dia transfeito em luzeiro agricola, a illuminar, qual possante holophote electrico, uma grande zona do paiz.

II

Sizenando Capistrano, mal se pithou transformado de famelico ouvidor-mór (de estrellas em peça mestra do Ministerio da Agricultura... casou, luademelou tres mezes e, ao cabo, compareceu perante o ministro para saber em que rumos nortear sua actividade.

O ministro franziu a testa: é tão difficil arranjar occupação para os phosphoros ministeriaes... Pensou um bocado, e:

— Escreva relatorios, desembuchou.

— Sobre quê, Excia.?

— Sobre qualquer coisa. Relate, vá relatando. A funcção capital do nosso ministerio é produzir relatorios de arromba sobre o que ha e o que não ha. Relate.

— Mas, Excia., eu desejava ao menos uma suggestão emanada do alto criterio de V. Excia. sobre o thema do relatorio que a bem da lavoura V. Excia. com tanto tino me incumbe de escrever...

— Já lhe disse: sobre qualquer cousa que lhe dê na veneta. Relate, vá relatando e depois me appareça.

Sizenando sahiu encantado com os processos expeditos do dr. Grifado, com assento na pasta, e passou tres mezes, de papo ao ar, procurando uma these conveniente.

Como por essa época a lua de mel lhe enirasse em plena minguante, houve certo dia rusga brava ao jantar, e a consorte, mulherzinha de pêllo crespo no nariz, pespegou-lhe pela cara com um prato de salada de beldroega.

Tal o celebre estalo que abriu a inteligencia do Padre Antonio Vieira em menino, aquelle obuz culinario teve a extranha acção de iluminar os refolhos cerebraes do inspector.

— Eureka! berrou elle radiante, e com um grande riso de goso na cara emplastada d'herva e unto, ergueu-se da mesa ás pressas, rumo do escriptorio. A mulherzinha, entre colerica e pasmada, perguntava de si para si:

— Estará louco?

Sizenando deitou mãos á tarefa, e levou a cabo um estudo botanico-industrial de hervinha, com afan tal que, transcorridos dez mezes, dava a prélo o «Relatorio sobre o Papalvum brasiliensis, vulgo Beldroega, e sua applicação na culinaria» O anno seguinte gastou-o em revêr as provas do calhamaço, a modo de escoimal-o dos minimos vicios de linguagem. O antigo torturado da Fórma resurtia alli... Saiu o relatorio obra papafina, optimo papel e muitas gravuras elucidativas. Entre estas, em bello destaque, os retratos do Ministro, do Director da Agricultura, do Marechal Hermes, do tenente Pulcherio, do Frontin, do Pinheiro e mais protuberantes paredros do momento.

Prompta a edição, embaraçou-se Sizenando quando ao destino a lhe dar.

Que fazer de tanta beldroega?

Foi ao ministro.

— Excellencia! De accordo com as sabias ordens de V. Excia., venho communicar a V. Excia. que se acha prompta a edição do Řelatorio sobre o Papalvum.

— Que papalvo? Que relatorio? inquiriu o ministro deslembrado.

O que V.. Excia. me incumbiu de escrever.

— Quando?

— Haverá dois annos.

— Não me recordo disso, mas é o mesmo. Mande a papelada para o forno de incineração da Casa da Moeda.

Sizenando abriu a maior bocca deste mundo. O ministro comprehendeu aquella estuporação e sorriu.

— Então? Que queria V. que eu fizesse de cinco mil exemplares de um relatorio sobre a Beldroega? Que o puzesse á venda? Ninguem o compraria. Que o distribuisse gratis? Ninguem o acceitaria. Si é assim, si sempre foi assim, si sempre será assim com todas as publicações deste ministerio, o mais pratico é passar a edição directamente da typographia ao forno. Isso evita a maçada de nos preoccuparmos com ella e de a termos por ahi a atravancar os archivos. Não acha V. que é o mais razoavel? Retire os que quizer e forno com o resto.

— E depois, que devo fazer? indagou Sizenando, inda tonto do expeditismo ministerial.

— Escreva outro relatorio, respondeu sem vacillar o ministro.

— Para ser queimado novamente? atreveu-se a murmurar o poeta-inspector.

— Está claro, homem! Para que diabo dispendeu o governo tanto dinheiro na montagem do forno? Está claro que para incinerar as notas velhas e os relatorios novos. Deste modo se conservam em actividade perpetua o pessoal da Imprensa, o do Forno e o dos Ministerios. Veja V. como é sabia a nossa organização administrativa! A criação do forno foi a melhor idéa do governo passado. Antes delle a Imprensa Nacional vivia entulhada de impressos; a producção de relatorios, funcção capital deste Ministerio, periclitava; e era tudo uma desorden, um desequilibrio capaz de induzir o governo á supressão da Imprensa e do meu Ministerio. O Forno sanou a situação. O fervet opus é magnifico e a espada de Damocles está para sempre arredada de nossas cabeças. Hein? Vá, escreva outro relatorio, sobre... sobre... o carúrú, por exemplo.

Sizenando deixou o gabinete, meditativo. S. Excia, derrancára-o!

Viu com dôr d'alma as chammas no Forno lêrem aquelle relatorio tão bem acabadinho, tão de encher o olho... E sacou seis mezes de licença, com vencimentos, para descançar.

Exgotada a licença, ia Sizenando começar a pensar em se preparar para escolher o papel e á tinta com que relatasse o carúrú, quando o dr. Grifado apeou da administrança. Sizenando deixou que transcorressem mais seis mezes, ao termo dos quaes se apresentou ao novo titular para lhe sondar a orientação. O novo ministro era um bacharel em sciencias jurídicas e sociaes, ex-chefe de policia e tão entendido em agricultura como em archeologia inca. Mas léra uns numeros das «Chacaras e Quintaes» e abeberára-se alli de umas tantas noções vagas sobre avicultura, polycultura, apicultura, criação de canarios, etc. Fez dessas uras o seu programma. No discurso de apresentação, ao empossar-se no cargo, emittiu os seguintes conceitos, louvadissimos pelos circumstantes, empregados no Ministerio quasi todos e verdadeiras hortaliças em materia agricola.

― A monocultura, senhores, é o grande mal; a polycultura é o grande bem; no dia em que produzirmos cebola, alho, batata, repolho, coentro, alpiste, alfafa, cerefolio, grão de bico, tremoço, quiabo, espargo, espinafre, alcachôfra...

(Um arrepio de enthusiasmo percorreu a espinha dos assistentes, que se entreolharam gososos, como quem diz: temos homem pela prôa!)

— ... cebolinho, couve-flor, sorgho, soja amarella, centeio, aveia, figos da Thracia, uvas de Corintho, violetas de Parma...

— Bravissimo!

— .... violetas de Parma... violetas de Parma... violetas (caroço) e outros cereaes europeus (vermelhidão no rosto), a prosperidade nacional assentará num soclo granitico do qual não a arrancarão as mais rijas rajadas dos vendavaes economicos. Conduzir a patria a essa Chanaan da polycultura: eis a mira permanente dos meus esforços, eis o meu programma, eis o fim supremo collimado pela minha actividade. Espero, pois, que, etc. etc,

Palmas, bravos, guinchos, silvos e outros sons denunciadores de enthusiasmo alçado a gráo de ebulição estrugiram pela sala. O ministro foi abraçado e beijado — nas mãos.

Aquelle saivava a pátria, não havia a menor duvida!

III

O novo ministro da Agricultura era positivamente uma aguia ― egual ás anteriores.

Tinha progtamma. Visava confundir a rotina monocultora com demonstrações praticas das magnificencias da polycultura mechanica.

Sizenando recebeu ordem de ir desempégar a centesima região do atascal da rotina. Aquella gente ainda vivia em pleno periodo da pedra lascada do café, e era mistér tangel-a á estação aurea da polycultura, da avicultura, da sericultura, da criação de canarios hamburguezes, etc., preluzida no discurso do ministro.

Chegando á séde do districto, com sequito numeroso e abundante farragem mechanica, Sizenando distribuiu convites para a inauguração d'um curso pratico. Escolheu para campo de demonstração um «rapador» a um kilometro da cidade, e lá, no dia emprazado, reuniu os convivas, Veiu o prefeito municipal, o porteiro da Camara, o collector federal, o promotor publico, tres jornalistas, quatro professores, o director do grupo escolar com a meninada, o vigario da parochia, o fiscal da illuminação publica, o zelador do cemiterio, o carcereiro, um guarda-chave da Central, cinco inspectores de quarteirão, o delegado, o cabo do destacamento — e um fazendeiro recem-despojado da sua propriedade por dividas.

A turma docente e os bois do arado formavam um grupo á parte.

Sizenando trepou a um cupim e pronunciou breve allocução allusiva á personalidade sobreexcellente do ministro e ao papel dos novos methodos racionaes na agricultura moderna.

— O novo methodo é baseado na sciencia purar Vem dos laboratorios de braços dados á chimica. Começarei pela exposição do arado ou charrúa, a: pedra angular de todo o progresso agricola. Senhor primeiro arador, arado para a frente!

Despegou-se da turma um capataz que empurrou para perto do cupim tribunicio um bello arado de discos.

Rodearam-no os circumstantes como a um animal raro.

— Eis, meus senhores, um arado de disco. Esta parte se chama cabo; esta é a roda, serve para rodar; estas rodelas são os discos, servem para sulcar a terra; este ferrinho é a manivela graduadora; este páosinho é o balancim. Aqui se atrelam os bois e cá toma assento o conductor.

Explicou depois o seu funccionamento,

— Vejamol-o agora em acção. Senhor primeiro conductor de primeira classe, atrelar!

Adeantou-se da turma um carreiro e tangeu os bois para a machina, jungindo-os á canga.

Os assistentes riram-se. Acharam immensa graça ao Thomé Pichorra, que nunca fôra senão o Thomé Pichorra, carreiro, transformado em primeiro conductor de primeira classe!

Era de primeirissima.

— Senhor primeiro arador, arar!

O primeiro arador saltou á boléa e empunhou as manivelas. O primeiro conductor aguilhoou a junta de bois.

— 'amo, Bordado! Puxa, Malhado!

Os dois caracús moveram-se pesadamente.

A terra, sulcada pelo ferro, abriu-se em leivas e Sizenando exultou.

— Vejam, senhores, que maravilha! Faz o trabalho de vinte homens além de que deixa a terra desatada, com grande receptividade para a meteorização atmospherica — o que equivale a uma adubação copiosa.

Este pedacinho encantou sobremodo ao zelador do cemiterio, o qual não conteve um sincero muito bem!

Sizenando agradeceu com um gesto de cabeça. O arado deu umas tantas voltas e emperrou. A banda de musica, para disfarçar a entaladela, requebra o Vem cá, mulata. E assim termina a primeira parte da demonstração.

A segunda consistiu no destorroamento e no gradeamento da terra, feitos com o mesmo luxuoso apparato,

Havia primeiro e segundo destorroador, primeiro e segundo gradeador. Um mimo de hierarchia!

Ao terminar o serviço, a banda zabumbou um tanguinho.

A terceira parte foi absorvida pelo plantio de cebolas, batatas, alho, alfafa, e mais salvações nacionaes.

— Os senhores verão, concluiu Sizenando, que maravilhosa mésse vae brotar, farta, deste torrão sáfaro e ingrato, só porque applicamos, summariamente, os processos modernos de cultura racional, os quaes centuplicam a producção diminuindo o trabalho. A machina agricola é a verdadeira alavanca do progresso!

— Protesto! A alavanca do progresso sempre foi a imprensa, contraveiu um jornalista cioso da velha prerogativa.

— Será, retrucou Sizenando; mas se uma, a imprensa, alçaprema o progresso moral, a outra, a machina agricola, alçaprema o progresso material!

— Bravissimo, rugiu o zelador do cemiterio, inimigo pessoal do Zé Tesoura. Isto é que é!

— Sim, senhor, muito bem! grunhiam outros.

Capistrano, rubro de goso pelo feliz successo da tirada, espichou o dedo para a philarmonica pedindo o hynno.

A banda escorchou a velha patriotada de Francisco Manuel. Desbarretearam-se todos. Capistrano, erecto sobre o pedestal de cupim, immobilizou-se em atitude de religiosa uncção, d'olhos postos no futuro da patria.

A' derradeira nota poz fim á festa com um escarlate viva á Republica — com tres r r pelo menos.

Acompanharam-no, como um echo, o collector, o zelador, o agente do correio e mais funccionarios federaes demissiveis, além dos bois, que mugiram.

Mezes mais tarde procedeu-se á colheita. As cebolas haviam apodrecido na terra, devido ás chuvas; os alhos vieram sem dentes, devido ao sol; as batatas não foram por diante, devido ás vaquinhas; as outras «polyculturas» negaram fogo devido ás saúvas, á quem-quem, á geada, a isto e a mais aquillo.

Não obstante, seguiu para o Rio um soporoso relatorio de trezentas paginas onde Capistrano entre outras maravilhas dizia: «Os resultados praticos do nosso methodo demonstrativo in locu têm sido verdadeiramente assombrosos! Os lavradores acódem em massa ás licções, applaudem-nas com delirio e, de volta ás suas terras, lançam-se com furor á cultura poly, em tão boa hora lembrada pelo claro espirito de V. Excia. O Senhor Ministro póde felicitar-se de ter aberto de par em par as portas da edade de ouro da agricultura nacional.»

Os jornaes transcreveram com gabos estes e outros pedacinhos de ouro. E muita gente se encheu de mais um bocado de ufania por este nosso maravilhoso paiz.....



Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.