MEDÉIA (personagem mítica e trágica, amante do argonauta Jasão)
O mito de Medéia, como o das heroínas Ariadne e Fedra, está ligado ao ciclo dos Argonautas. O dramaturgo grego que melhor explorou o assunto lendário foi Eurípides, pela peça Medéia: a personagem-título é uma feiticeira, filha do rei da Cólquida. Apaixonada pelo aventureiro Jasão, o ajuda a apoderar-se do Tosão de Ouro. Fugindo de sua terra, inclusive enfrentando a ira do pai e despedaçando o corpo do próprio irmão, acompanha Jasão em suas andanças. Chegados em Corinto, Jasão despreza Medéia, casando-se com a jovem Creusa, filha do rei Creonte. Medéia se vinga, provocando a morte de Creusa e de Creonte, servindo ao marido a carne dos dois filhos que tivera com Jasão. O tema foi retomado posteriormente pelo latino Sêneca, o neoclássico Corneille e vários autores modernos, alguns ressaltando o aspecto mágico da feiticeira, dotada de poderes demoníacos (o sacrifício das duas crianças visto como um rito esotérico); outros, lançando mão de anacronismos grotescos, interpretam o mito de Medéia como expressão de "barbarismo": o universo asiático e primitivo da protagonista, habitante da longínqua e atrasada Cólquida, é repudiado pelo mundo civilizado da Grécia de Jasão. Assim, a versão brasileira contemporânea do mito de Medéia, escrita por Paulo Pontes e musicada por Chico Buarque, com o título de Gota d’Água, transfere a lenda para uma favela carioca, onde o pobre Jasão repudia o imenso amor de Medéia para dar o golpe do baú, casando-se com Creusa, a filha de um ricaço, provocando a terrível vingança da mulher abandonada.