POESIA (a arte da palavra) → GêneroLiteratura Lírica

"A atividade intelectual produz idéias que,
configuradas em imagens, são expressas pela voz"
(Alfredo Bosi)

O termo tem origem grega: poiesis significava o "fazer" artístico de um modo geral, a criação literária, em todas suas formas. Tanto que Aristóteles, o primeiro teórico da literatura, fala de Poesia épica ou narrativa, Poesia lírica e poesia dramática. Enfim, a poesia é a "arte da palavra", em versos ou em prosa. Nesse sentido genérico, Eça de Queirós ou Machado de Assis são poetas tanto quanto Fernando Pessoa ou Manuel Bandeira. E isso porque a linguagem poética tem características próprias, não necessariamente ligadas a esquemas estróficos, rímicos ou rítmicos. A diferença entre poesia e prosa literária é polêmica, pois seus limites não estão bem definidos, existindo formas intermediárias, chamadas de "poema em prosa" ou "prosas poéticas". A poesia não se distingue da prosa literária pela presença da rima (há poemas sem rimas), nem do metro (há poemas com versos irregulares), nem do ritmo (a prosa também pode tem um ritmo poético), nem da estrofe (como há romances sem divisão em capítulos, assim há poemas sem divisão estrófica). A diferença formal reside apenas na presença ou não do "verso". Do latim versus, o termo significa "voltar para trás", retorno; ao passo que prosa, de prorsus, significa "ir para frente", avançar sem limites. Teoricamente, se o espaço gráfico o permitisse, um conto ou um romance poderia ser escrito numa única linha. Um poema, diferentemente, é construído pela segmentação de sua escrita: cada verso é um recorte no continuum do discurso, estabelecendo pausas fônicas, independentemente de pausas sintáticas. Um verso é intocável, sendo sua extensão inalterável em qualquer edição do poema, devendo-se respeitar até os espaços em branco, pois também eles são significativos. A prosa, diferentemente, se caracteriza pelo ritmo da "continuidade", estando direcionada no eixo da contigüidade ou da metonímia, enquanto a poesia tem como ritmo próprio "a repetição", direcionando-se mais para o eixo da similaridade ou metafórico. As várias formas poemáticas, especialmente as de estrutura fixa (como o soneto, a redondilha etc.) repetem os mesmos sons (rimas, aliterações, paranomásias), repetem os mesmos versos (refrão), repetem o mesmo ritmo (acentos e metrificação). Esse tipo de poesia, no sentido mais estrito, está mais próximo da associação entre a palavra e a música. Em suas origens, na Grécia antiga, era chamada de "mélica" (de melos, canto, melodia) e de "lírica" (de lira, instrumento musical), pois a palavra poética não estava separada da música, do canto e da dança. Tanto é verdade que quase todas as formas de poemas têm nomes relacionados com essas formas de arte: "soneto" (pequeno som), "canção", "cantiga", "balada", "rondó" (dança de roda). Assim, como o aedo grego, o trovador medieval promovia a aliança entre a letra do poema e o acompanhamento musical. E isso porque a poesia era feita para ser cantada e não lida, num tempo em que a maioria do povo era analfabeta e não existia ainda a imprensa que pudesse divulgar poemas escritos. Mas ainda hoje a relação poesia-música é cultivada pela grande maioria dos povos: os Beatles, na Inglaterra, os Rolling Stones nos Estados Unidos, as canções napolitanas, a música latino-americana, a MPB (Música Popular Brasileira), os filmes musicais do cinema, o teatro da Ópera são todas produções artísticas, onde o veio poético é adornado pela áurea canora. A poesia, hoje em dia quase identificada com a Lírica, além de uma forma de expressão lingüística, destinada a evocar emoções, por meio da união de sons, ritmos e palavras com sentido metafórico, indica um estado de espírito, uma postura perante a vida. Chamamos de "poético", "romântico" ou "lírico" a uma paisagem, a um filme, a uma atitude ou momento existencial. Às vezes, o lírico age ao nível do subconsciente. A poesia, no dizer de Carlos Drummond de Andrade, é "um jogo em que os poetas manejam cartas desconhecidas deles próprios". Para o estudo da poesia, no sentido estrito, remetemos aos verbetes Gênero e Lírica, ressalvando que a arte poética, na sua plenitude, é constituída pela confluência das três atividades humanas: pensar, sentir e dizer, conforme ensina Alfredo Bosi, o acadêmico e ilustre crítico literário, citado na epígrafe.