LITERATURA (a arte mais universal)

"A Literatura é uma luta contra as mentiras ortodoxas." (Martin Seymour-Smith)
"A Literatura é sempre uma expedição à verdade." (Franz Kafka)

A literatura é a forma de arte mais cultivada no tempo e no espaço. Da palavra latina "littera" (letra), chamamos de Literatura ao conjunto das obras escritas por poetas, romancista, contistas e, em geral, por todos os que se preocuparam com a arte da linguagem humana escrita. A rigor, portanto, não se pode falar de "literatura oral", pois o correto é considerar literário apenas o que se encontra "escrito", formalizado num Texto, a partir da existência de um alfabeto. Todos os povos primitivos têm sua "cultura", mas não todos possuem uma literatura. Falar de "literatura oral" é uma impropriedade lingüística. Outro aspecto a ser ressaltado: não toda literatura é arte. De um modo geral, literatura é o que foi escrito sobre algum assunto: assim falamos de literatura médica, jurídica, esportiva etc. Outra coisa é o conceito de literatura num sentido restrito, como arte da palavra, que pode ser definida assim:

"Uma forma de conhecimento da realidade,
que se serve da ficção,
e tem como meio de expressão a linguagem,
artisticamente elaborada".

Esta definição apresenta, de uma forma sucinta, mas abrangente, a natureza e a função da literatura propriamente dita, bem como sua diferenciação das outras artes, da filosofia e da ciência. O conceito de literatura como "forma de conhecimento da realidade" irmaniza a atividade literária com as outras operações do espírito humano, todas elas voltadas para a compreensão do mundo em que vivemos. Se a busca do saber é a característica fundamental do ser humano, que o distingue dos outros seres que habitam o universo, é natural que qualquer atividade do homo sapiens vise o conhecimento de uma realidade exterior ou interior, material ou espiritual. Pela oração adjetiva "que se serve da ficção", estabelece-se a diferença específica entre o conhecimento artístico e o conhecimento reflexivo ou científico. Enquanto o filósofo lança mão do pensamento especulativo e o cientista se apóia na observação e experimentação dos fenômenos da natureza, o artista recorre à imaginação, à fantasia para tentar compreender o mundo. "Fictício" não significa falso, mas apenas historicamente inexistente. O que acontece num romance, numa tela de cinema ou de televisão, num quadro, é um parto da fantasia do autor que, refletindo sobre a realidade existencial, cria um universo imaginário onde os valores ideológicos são questionados. O crítico Martin Seymour-Smith (Os 100 Livros que mais influenciaram a Humanidade) afirma que a Literatura é "uma luta contra as mentiras ortodoxas". Observa-se que a Personagem de ficção é muito mais verdadeira do que a pessoa real, pois, esta é obrigada a ocultar sua verdadeira essência, seus desejos mais recônditos, e a colocar a máscara que o seu status social requer; enquanto aquela, diferentemente, por ser fruto da imaginação, pode abrir-se para nós em toda sua autenticidade, não constrangida por preceitos morais. Por sua vez, pelo uso da linguagem, a literatura se diferencia das outras artes que usam diferentes meios de expressão: a imagem fixa (pintura), a imagem móvel (cinema), mármore, gesso ou madeira (escultura) etc. Mas esta linguagem, para ser literária no sentido estrito, tem que ser "artisticamente elaborada" para que se diferencie de outras atividades que, como a poesia ou o romance, também fazem uso da fala escrita: história, jornalismo etc. A linguagem poética, pelo uso das figuras de estilo , que podem atingir o léxico (metaplasmos), a sintaxe (inversões) ou a semântica (metáfora), tende à ruptura dos automatismos lingüísticos e ideológicos, estimulando os leitores a pensar nas palavras e nos sentidos que elas podem exprimir. O texto literário, portanto, além de fornecer um prazer estético (o fim lúdico), é a fonte mais fascinante de conhecimento do real. Daí a função social da literatura que, a par da filosofia, psicologia, biologia e de outras ciências e artes, embora por caminhos diferentes, induz o homem a refletir sobre os problemas existenciais. No que diz respeito especificamente à nossa Cultura, a Literatura Ocidental engloba os milhares de textos produzidos ao longo de quase 30 séculos, desde a Grécia Antiga até nossos dias, nos países dos continentes europeu e americano e em algumas regiões costeiras da Ásia e da África, excluindo-se apenas as civilizações orientais da China, do Japão e da Índia. Para o estudo dessa imensidade de obras de arte literária, a crítica moderna apresenta vários caminhos possíveis: a teoria do Texto , que analisa os elementos estruturais comuns a qualquer tipo de texto (fábula ou mito, narrador, personagem, tempo, espaço); a teoria dos Gêneros, que trata da especificidade das formas narrativas, líricas e dramáticas; a teoria dos Movimentos , que estuda as características estéticas e culturais das várias eras e épocas (período greco-romano, medieval, renascentista, romântico, realista, modernista, contemporâneo → Idade); a Retórica, que estuda as figuras de estilo. Não precisa dizer que o estudo sincrônico ou estrutural do texto é tão importante quanto a visão diacrônica ou evolutiva da Literatura, as duas modalidades de abordagem sendo complementares, nunca excludentes → Crítica.