RACINE (dramaturgo francês — Neoclassicismo) → Tragédia
Jean Racine (1639–1699) acusa as influências do espírito barroco, embora formalmente mais aderente à estética do Classicismo. Ligado à escola de Port-Royal, centro de difusão do jansenismo, Racine viveu o conflito entre o ideal religioso e a prática mundana da vida da corte, sendo o protegido do rei Luís XIV. Sua produção dramática demonstra bem essa duplicidade de tendências: de um lado, as peças de inspiração religiosa (Athalie, Cantiques Spirituels, Esther); de outro lado, as tragédias modeladas sobre os autores clássicos da Grécia (Les frêres ennemis, Andromaque, Bérénice, Iphigénie, Phèdre). Racine é, sem dúvida, o dramaturgo mais "clássico" da era moderna. Suas peças são um primor de perfeição formal, obedecendo rigorosamente às normas estéticas vigentes na época: a ação está concentrada num único episódio fundamental, o tempo do fato representado não passa de um dia, o espaço é constituído por um único cenário. Além dessa obediência à técnica teatral, Racine se preocupa muito com a fidelidade à história (Alexandre, le Gran; Mithridate; Britanicus), realizando pesquisas sobre as fontes do material dramático. O seu maior mérito, porém, foi o de ter rejuvenescido e adaptado ao seu tempo os grandes temas do teatro grego, trabalhando em profundidade a psicologia dos personagens. Como se pode notar pela maioria dos títulos de suas tragédias, ele dá particular relevo à personagem feminina. Suas heroínas exprimem os sentimentos mais marcantes do ser humano: a violência da paixão amorosa que leva até o incesto (Fedra), a fidelidade conjugal e a devoção ao marido (Andrômaca → Ilíada), o amor idílico (Berenice: a jovem esposa que consagra um cacho de seus cabelos, que se transforma em constelação), o espírito de sacrifício (Ifigênia).