TCHEKHOV (contista e dramaturgo russo)
E dentro de vinte e cinco ou trinta anos, no máximo,
cada homem trabalhará. Cada homem!...
"Senhores, viveis mal."
Anton Tchekhov (1860–1904), contista e dramaturgo da antiga União Soviética, passou sua breve vida entre o exercício da medicina, o tratamento da sua tuberculose, longas viagens e a atividade de escritor. A prática médica colocou Tchekhov em contato direto com a miséria do povo russo, antes da Revolução Bolchevique (→ Marx): desemprego, desnutrição, falta de assistência hospitalar, analfabetismo, superstição. Das outras classes sociais, a nobreza vivia o clima decadente do fim do século e a burguesia acomodada no seu egoísmo e na sua moral hipócrita. A necessidade de profundas mudanças é pressentida pelo escritor russo. Uma sua personagem assim se exprime:
"Ah! A nostalgia do trabalho! Como a compreendo, meu Deus.
Nunca fiz nada, em toda a minha vida.
Nasci em São Petersburgo, uma cidade fria e ociosa.
Nasci de uma família que jamais conheceu trabalho e preocupações.
Lembro-me de que, quando eu voltava da escola militar para casa,
um criado me tirava as botas, suportando todos os meus caprichos,
enquanto minha mãe me olhava em êxtase,
e se surpreenderia, naturalmente,
se todos não me olhassem da mesma maneira.
Protegeram-se sempre contra o trabalho,
mas é bem duvidoso que o tenham conseguido para sempre.
Bem duvidoso.
Porque qualquer coisa de enorme já se pôs em movimento.
Já se está preparando uma boa e formidável tempestade
que avança, que já está perto,
que muito breve vai cair sobre nossa sociedade
e vai "varrer" a preguiça, a indiferença, a podridão do tédio,
os preconceitos contra o trabalho. Um dia, trabalharei.
E dentro de vinte e cinco ou trinta anos, no máximo,
cada homem trabalhará. Cada homem!"
Esta fala do barão Nikolai Tusenbach, que se encontra no ato I da sua peça As três irmãs, foi profética, pois a obra foi representada em 1901, e dezesseis anos depois estourou a Revolução Comunista na Rússia, que acabou com os privilégios de classe e a propriedade privada, obrigando todos os homens a produzir bens para a coletividade. A amizade com o famoso ator e empresário teatral Constantin Stanislavski, fundador do Teatro Artístico de Moscou, foi-lhe de estímulo para dedicar-se completamente ao gênero dramático. A primeira peça de Tchekhov, apresentada no referido teatro, foi A gaivota, em 1898. Neste drama não acontece nada. A peça tem como assunto a inação e o silêncio, volta e meia interrompido por solilóquios paralelos pelos quais os personagens deixam entrever suas angústias. A essa peça seguem-se, no mesmo estilo, Tio Vânia (1899), As três irmãs (1901) e O jardim das cerejeiras (1904), as quatro obras mais importantes da dramaturgia tchekhoviana. A obra dramática, assim como sua narrativa ficcional, está impregnada de um velado ceticismo perante o espetáculo da vida. Com fina ironia ele descreve ora a crueldade, ora a estupidez, ora a indiferença que reina no convívio social. Enfim, é o Machado de Assis da União Soviética! Seu teatro pertence ao filão literário do realismo psicológico, apresentando uma galeria de tipos inesquecíveis, que povoam a sufocante rotina da existência humana. Nada melhor que as palavras de Máximo Górki, outro grande dramaturgo soviético desta época, famoso pela peça Pequenos burgueses, para compreendermos a singular figura humana e artística de Tchekhov:
Perante esta multidão aborrecida de seres importantes,
um homem passou, grande, inteligente, a tudo atento;
observou os enfadonhos habitantes de sua pátria e,
com um sorriso triste, em tom de censura, doce, mas profundo,
com uma desesperada angústia na face e no coração,
disse-lhes, em sua voz tão sincera:
"Senhores, viveis mal."