TEATRO (a arte da representação) → Drama → Comédia → Tragédia → Ópera
O termo grego théatron literalmente significa o lugar de onde "se vê", o espaço físico onde se representa um drama, como o cinema é o lugar onde se projeta um filme. Inicialmente, era construído ao pé de uma colina, aproveitando-se as encostas para o corte do terreno no sentido vertical onde, nas camadas horizontais, nos vários degraus, eram adaptados os assentos dos espectadores (a platéia), enquanto a parte baixa, plana, funcionava como palco: uma pista circular (daí o nome de "anfiteatro"), na qual eram dispostos a orquestra (o espaço reservado aos músicos e ao coro), a skené (a cena, a tenda atrás da qual os atores trocavam suas vestimentas) e o proscênio (o lugar na frente da cena, onde os atores representavam o drama). Evidentemente, o espaço físico da representação foi se modificando paulatinamente, construindo-se teatros de madeira, de pedra, de mármore, em lugares urbanos mais apropriados e para finalidades específicas. Mais importante, neste verbete, é salientar a estrutura da peça teatral em si, independentemente do tempo, do lugar ou da espécie.
Aristóteles, ao estudar a tragédia grega, já tinha relevado seis elementos constitutivos da forma dramática: mithos (história), ethos (caráter das personagens), diánoia (tema), lexis (discurso), ópsis (cenografia) e melopéia, (sonoplastia), componentes da teoria do Texto, visto que são comuns a qualquer tipo de composição literária. Para o estudo específico da peça teatral, apontamos aqui seus componentes estruturais, que se encontram estudados em verbetes específicos: "script" (Mito), Personagem, Ator, Público, Diretor, cenografia (→ Espaço), sonoplastia (→ Música). Apresentam-se, também em lugar apropriado, noções sobre peculiaridades das formas dramáticas tradicionais: Tragédia, Comédia e Ópera, sendo que o Drama moderno e formas teatrais menores deixaram de respeitar as normas rígidas da estética clássica, não separando o cômico do trágico, não observando a lei das três unidades (ação, tempo e lugar), não se preocupando com a verossimilhança e a conveniência. A seguir, eis um esboço da evolução do gênero dramático e de sua tipologia, remetendo, para maiores informações sobre o teatro, a verbetes referentes às várias épocas da cultura ocidental e aos dramaturgos que consideramos fundamentais.
As origens do teatro greco-romano:
Na Grécia a arte dramática está profundamente ligada ao sentimento religioso, ao cultivo da terra e à representação da vida cotidiana. Ver: Dionísio, Tragédia, Comédia, Ésquilo, Sófocles, Eurípides, Aristófanes. Na velha Roma, o povo latino imitou as formas dramáticas gregas, adaptando-as à sua realidade e sensibilidade: a tragédia de Sêneca e as comédias de Plauto e Terêncio.
O teatro medieval: a representação teatral na Idade Média tinha como palco os pórticos das igrejas ou as praças públicas onde, montados sobre carroções, eram representados os autos religiosos referentes à Natalidade de Jesus Cristo (Auto dos Reis Magos), ao mistério da Eucaristia (Corpus Christi), da Ressurreição ou de outros episódios do Velho e do Novo Testamento (→ Bíblia) ou da vida de Santos, Mártires e Apóstolos. Enfim, era o drama religioso cristão que, aos poucos, foi suplantando o teatro clássico pagão. Mas as notícias são imprecisas e não existe nenhum script, que nos possa oferecer uma noção do valor artístico das representações dramáticas que ocorreram ao longo da Idade Média, que durou quase um milênio (→ Medievalismo). A tradição da dramaturgia medieval sente-se presente nas épocas posteriores, a partir da Renascença, quando se misturam vários filões de arte dramática: o auto da fé; as novelas de Cavalaria dos ciclos bretão e carolíngio; resquícios da herança dramática da era antiga; as histórias trágicas relacionadas com o surgimento dos vários reinados nos países europeus; a comédia satírica popular.
O teatro neoclássico: durante o Renascimento, o Barroco e o Arcadismo, foi retomado o filão da dramaturgia trágica e cômica, herança da cultura greco-romana, especialmente na Inglaterra (o teatro elisabetano de Shakespeare), na Itália (Maquiavel, Tasso, Ariosto), na França (Corneille, Racine, Molière). Para as normas que guiavam este tipo de dramaturgia, ver: Classicismo. Ao mesmo tempo em que acontecia a retomada da dramaturgia clássica ou pagã, continuou também a herança medieval do teatro religioso e popular, especialmente na península ibérica: Calderón de la Barca, Lope de Vega, Gil Vicente. Paralelamente ao teatro neoclássico, cujas peças eruditas eram representadas nas cortes e nos palácios dos ricos e nobres, ia se desenvolvendo o que poderíamos chamar de "teatro do povo", que se tornou famoso na Itália com o nome de "Commedia dell’arte", pois tratava de assuntos alegres da vida cotidiana e os atores não decoravam textos escritos por um autor, mas improvisavam os diálogos na hora, conforme o público e o lugar. Essa forma teatral aproxima-se do teatro de marionetes, dos folguedos carnavalescos e das representações circenses, pois os atores usam sempre uma máscara (Arlequim, Colombina, Pantaleão, Doutor, Capitão), que representa um papel fixo, imutável: a palhaçada é gratuita e a improvisação arbitrária. A repetição de gestos e palavras já previsíveis faz a alegria da platéia popular.
O teatro romântico: também o gênero dramático, como o narrativo e o lírico, na época do Romantismo, se afirmou em franca oposição à estética clássica. Foram abolidas as regras rígidas da estrutura da peça, especialmente a lei das três unidades (ação, espaço e lugar), multiplicando-se as ações e tratando-se livremente o tempo e o espaço. Rejeitou-se a exigência clássica da pureza dos gêneros, incluindo-se no drama elementos de liricidade e de narratividade, misturando-se o trágico com o cômico, a poesia com a música e o canto, a prosa com o verso. Daí a valorização de formas novas ou renovadas: melodrama, tragicomédia, opereta, ópera-bufa, scherzo, intermezzo e, sobretudo, o teatro da Ópera, estudado no verbete apropriado. A grande revolução na representação dramática, operada pelo Romantismo, além das alterações de aspecto técnico-formal, foi uma diferente concepção de temática e personagem. Enquanto a tragédia clássica, no dizer de Aristóteles, era arte de "mimese superior", quer dizer imitava uma realidade idealizada, transcendental, vivida por seres superiores aos comuns mortais (deuses, nobres, heróis), o teatro romântico apresenta o drama da burguesia na sua problemática existencial. Duas peças são as mais significativas para entendermos a essência do teatro romântico: Fausto, do poeta alemão Goethe, e Cyrano de Belgerac, do comediógrafo francês Rostand.
O teatro realista: influenciados pelo desenvolvimento científico, os intelectuais da segunda metade do século XIX apregoavam um teatro capaz de desmistificar quer o herói clássico quer o sentimentalismo romântico. Alguns caíram no radicalismo do movimento naturalista, sugerindo a criação do homem-animal, condicionado pela hereditariedade e pelo meio. Mas a teoria positivista foi benéfica em contestar o absolutismo imperialista e patriarcal, esmagador da grande massa do povo. A temática preferida é a escravidão econômica, a inércia, a incompetência e a corrupção do funcionalismo público e do clero, a falsa moralidade, o estado lastimável da mulher e sua tentativa de libertação da escravidão masculina, motivo predominante do melhor dramaturgo da época: Ibsen.
O teatro modernista e conteporâneo: em 1926, quando o dramaturgo francês Antonin Arrtaud fundou o teatro "Alfred Jarry", quis prestar uma justa homenagem póstuma àquele que foi o precursor da arte da Vanguarda na Europa. Alfred Jarry (1873–1907) tornou-se famoso em Paris no ano de 1896 ao apresentar a peça Ubu-Rei. Na abertura do pano do Théâtre de l’Oeuvre, o famoso ator Firmin Gérnier, num cenário majestoso, dirigiu-se ao elegante público francês pronunciando um sonoro palavrão: "merdre!" O escândalo estava feito e a representação da peça prosseguiu entre risadas, vaias e aplausos. A ação da comédia se passa inicialmente na Polônia, onde o casal Ubu, Pai e Mãe, ex-soberanos do reino de Aragão, dão um golpe de Estado e governam com um cruel despotismo, apossando-se dos bens de todos os ricos do país e cobrando pessoalmente pesados impostos. Há uma revolta, e Pai e Mãe Ubu tremem de medo, refugiando-se numa caverna. Enfim, chegam à França e Pai Ubu é escolhido como Ministro do Tesouro Nacional. Essa peça aloucada e divertida encerra uma sátira sutil da burguesia, voraz e covarde, ao mesmo tempo. Jarry iniciava, assim, o que foi chamado "teatro do absurdo", que teve ilustres cultores: Beckett, Ionesco, Adamov, Pinter, Genet, Arrabal, Oswald de Andrade. A função destes dramaturgos, sem pertencerem propriamente a uma escola ou a um movimento artístico, é de representar no palco o absurdo da existência humana, seus conflitos insolúveis. Eles têm em comum a consciência da crise dos valores tradicionais, que atinge até a linguagem, incapaz de expressar a angústia do homem contemporâneo. Daí o recurso a palavrões, a diálogos desconexos, à música, a cabriolas cômicas, ao uso do silêncio como meio de comunicação, à participação mais direta entre atores e espectadores.
Enfim, é o teatro que quer superar o estágio do diálogo tradicional, recorrendo a outros meios de expressão, como estava acontecendo em outras formas artísticas: na poesia, pela corrente "concretista"; na narrativa, pelo nouveau roman; na pintura, pelo abstracionismo; no cinema, pelo Surrealismo. Aliás, este movimento de André Breton, como o Dadaísmo de Tzara e o Cubismo do poeta ApoIlinaire, confessou sua dívida à dramaturgia revolucionária de Alfred Jarry e ao teatro total de Antonin Artaud, que tentaram reconstruir a primitiva forma de representação teatral, em seu aspecto ritualístico e sacral, pelo recurso à comunhão entre palco e platéia. Mas não somente do teatro do absurdo vive a dramaturgia modernista e contemporânea. Entre as várias correntes estéticas e ideológicas, assinalamos o metateatro de Pirandello, o teatro lírico de Lorca, o político de Brecht, o existencialista de Sartre, o psicanalítico de Nélson Rodrigues, o teatro-documento de Weiss, o teatro da despersonalização de Eugêne O’Neill, o teatro-pânico de Arrabal e, enfim, o teatro convencional de Tennessee Williams, Artur MilIer e de centenas de outros dramaturgos contemporâneos que, sem se preocupar com inovações técnicas, atendem continuamente à grande massa do público que se comove em ver representados no palco seus problemas existenciais.