A Cabra, o Cabrito e o Lobo

Antes de sair a pastar, a cabra, fechando a porta, disse ao cabritinho:

— Cuidado, meu filho. O mundo anda cheio de perigos. Não abra a porta a ninguem antes de pedir a senha.

— E qual é a senha, mamãe?

— A senha é: “Para os quintos do inferno o lobo e toda a sua raça maldita”.

Decorou o cabritinho aquelas palavras e a cabra lá se foi, sossegada da vida.

Mas o lobo, que rondava por ali e ouvira a conversa, aproximou-se e bateu. E disfarçando a voz repetiu a senha.

O cabritinho correu a abrir, mas ao pôr a mão no ferrolho desconfiou. E pediu:

— Mostre-me a pata branca, faça o favor...

Pata branca era coisa que o lobo não tinha e portanto não podia mostrar. E, assim, de focinho comprido, desapontadissimo, o lobo não teve remedio senão ir-se embora como veio — isto é, de papo vazio.

Desse modo salvou-se o cabritinho porque teve a boa ideia de

confiar, desconfiando.

— Esse cabritinho, disse Emilia, é como eu e o Marechal Floriano Peixoto. Nós tres confiamos desconfiando. Lobo nenhum nos embaça. Esse cabritinho aprendeu comigo.

— Como aprendeu com você, Emilia, se você nunca o encontrou?

— E’ que ele adivinhou que eu penso assim...

Tia Nastacia, lá da copa, murmurou "Ché!...

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.