Os Dois Ladrões
Dois ladrões de animais furtaram certa vez um burro, e como não pudessem reparti-lo em dois pedaços surgiu a briga.
— O burro é meu! alegava um. O burro é meu porque o vi primeiro...
— Sim, argumentava o outro, você o viu primeiro; mas quem primeiro o segurou fui eu. Logo, é meu...
Não havendo acordo possivel, engalfinharam-se, rolaram na poeira aos socos e dentadas.
Enquanto isso um terceiro ladrão surge, monta no burro e foge de galope.
Finda a luta, quando os ladrões se ergueram, moidos da sova, rasgados, esfolados...
— Que é do burro?
Nem sombra! Riram-se — risadinha amarela — e um deles, que sabia latim, disse:
— Inter duos litigantes tertius gaudet, que quer dizer: quando dois brigam, lucra um terceiro mais esperto.
— Isso já me aconteceu uma vez, disse Pedrinho. Briguei lá na escola por causa duma pera, e quando terminou a briga, que é da pera? Estava no papo do Zézico, filho do Tótó padeiro.
— E você deu tambem a tal risadinha amarela...
— Dei mas foi um tal murro no ladrão que ele quasi vomitou a pera. Quem riu amarelo foi ele.
— Que adiantou? Ficou do mesmo jeito sem a pera.
— E o gosto? Uma fórra dessas vale tres peras.
Emilia concordou.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.