A Mutuca e o Leão

Cochilava o leão á porta de sua caverna no momento em que a mutuca chegou.

— Que vens fazer aqui, miseravel bichinho? Some-te, retira-te da presença do rei dos animais.

A mutuca riu-se.

— Rei? Não és rei para mim. Não conheço tua força, nem tenho medo de ti.

— Vai-te, excremento da terra!

— Vou mas é tirar-te a prosa, disse a mutuca.

E atacou-o. Atacou-o a ferroadas com tamanha insistencia que o leão desesperou. Inutilmente espojava-se, e sovava-se a si proprio com a cauda ou tabefes das patas possantes. A mutuca fugia sempre e, ora no focinho, ora na orelha, ora no lombo, fincava-lhe sem dó o agudo ferrão.

Farta por fim de torturar o orgulhoso rei, a mutuca basofiou:

— Conheceste a minha força? Viste como de nada vale para mim o teu prestigio de rei? Adeus. Fica-te aí a arder que eu vou contar a toda bicharia a historia do leão sovado pela mutuca.

E foi-se.

Logo adiante, porém, esbarrou numa teia, enredou-se e morreu no ferrão da aranha.

São mais de temer os pequenos inimigos do que os grandes.

— Grande verdade! exclamou o menino. Um tigre é menos perigoso que certos microbios, e aqui na roça eu só tenho medo duma coisa: vespa!

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.