O Automovel e a Mosca
Um automovel havia encalhado em certo ponto de mau caminho, num atoleiro.
— E agora?
— Agora é procurar bois na vizinhança e arranca-lo á força viva.
Assim se fez. Arranjam os bois — uma junta. Atrelam-na ao carro e principia a luta.
— Vamos, Malhado! Puxa, Cuitelo!
Os bois estiram os musculos num potente esforço, espicaçados pelo aguilhão.
Mas não basta. E’ preciso que todos, serviçais e passageiros, metam ombros á tarefa e, empurrando de cá, alçapremando de lá, ajudem o arranco dos bovinos.
A mosca aparece. Assunta o caso e resolve meter o bedelho onde não é chamada. E toda aflita começa — vôa daqui, pousa ali, zumbe á orelha de um, pica no focinho de outro, atormenta os bois, atrapalha os homens — a multiplicar-se de tal maneira que dá a impressão de ser não uma só, mas um enxame inteiro de moscas infernais.
O carro, afinal, saiu do atoleiro.
— Uf! Que trabalhão me deu!... disse a mosquinha enxugando o suor da testa.
— A Joana Baracho é assim, comentou Narizinho. Lá na casa dela as irmãs fazem tudo, mas quem finge que súa é ela. Certas fabulas são retratos de pessoas.
— E isso é instintivo, tornou dona Benta. Lembra-se, Pedrinho, daquele jogo de futebol lá na vila? Os assistentes “torciam”, e quando a bola entrava no goal não havia um que não atribuisse o ponto á sua torcida pessoal.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.