A Onça Doente
A onça caiu da arvore e por muitos dias esteve de cama seriamente enferma. E como não pudesse caçar, padecia fome das negras.
Em tais apuros imaginou um plano.
— Comadre irára, disse ela, corra o mundo e diga á bicharia que estou á morte e exijo que venham visitar-me.
A irára partiu, deu o recado e os animais, um a um, principiaram a visitar a onça.
Vem o veado, vem a capivara, vem a cotia, vem o porco do mato.
Veio tambem o jabotí.
Mas o finorio jabotí, antes de penetrar no toca, teve a lembrança de olhar para o chão. Viu na poeira só rastos entrantes, não viu nenhum rasto sainte. E desconfiou:
— Hum!... Parce que nesta casa quem entra não sai. O melhor, em vez de visitar a nossa querida onça doente, é ir rezar por ela...
E foi o unico que se salvou.
— Todas as historias fazem do jaboti uma ideia muito boa, comentou Emilia. Espertos, inteligentes, mil coisas. Mas o nosso lá do pomar mostrou-se bem bobinho.
— Ao contrario, Emilia. Tanto não era bobo que já sumiu.
— Porisso mesmo. Se tivesse ficado aqui, estava no seguro. Nada nunca lhe aconteceria. Mas fugiu — e se foi para os lados do Elias Turco, aposto que dele só resta a casca. O Elias tem cara de gostar muito de jaboti ensopado...
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.