A Galinha dos Ovos de Ouro
João Impaciente descobriu no quintal uma galinha que punha ovos de ouro. Mas um por semana apenas. Louco de alegria, disse á mulher:
— Estamos ricos! Esta galinha traz um tesouro no ovario. Mato-a e fico o mandão aqui das redondezas.
— Por que mata-la, se conservando-a você obtem um ovo de ouro de sete em sete dias?
— Não fosse eu João Impaciente! Quer que me satisfaça com um ovo por semana quando posso conseguir a ninhada inteira num momento?
E matou a galinha.
Dentro dela só havia tripas, como nas galinhas comuns, e João Impaciente, logrado, continuou a marcar passo a vida inteira, morrendo sem vintem.
— Eu, se fosse o fabulista, disse Pedrinho, mudava o titulo dessa fabula. Punha O PALERMA. Só mesmo um palerma como esse João Impaciente podia fazer uma coisa assim.
Dona Benta não concordou.
— Ah, meu filho, isso de esperar não é facil. Quantas vezes você mesmo não perdeu uma coisa que muito desejava por excesso de impaciencia, por não ter tido a sabedoria de esperar...
— Ainda hontem, vóvó, ele quasi pegou uma saira das raras, ajuntou Narizinho. Mas não esperou que ela entrasse bem, bem, bem, na armadilha. Puxou o cordel antes do tempo. Pedrinho tambem é palerma ás vezes, por falta de paciencia. Eu, sim, sei esperar.
— E porisso mesmo não pegou aquela pulga que estava em sua cama, disse Emilia. Ficou esperando que a pulga parasse de pular e a pulga afinal sumiu.
A especialidade de Emilia era pegar pulgas.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.