Antes de sahir a pastar, a cabra, fechando a porta, disse ao cabritinho:
Cuidado, meu filho! O mundo anda cheio de perigos. Não abras a porta a ninguem antes de pedir a senha.
— E qual é a senha, mamãe?
— A senha é: "Para os quintos o lobo e toda a sua raça".
Decorou o cabritinho aquellas palavras e a cabrita lá se foi, sossegada da vida.
Mas o lobo, que rondava a casa, e ouvira a conversa, sem demora approximou-se e bateu. E, disfarçando a voz, repetiu a senha.
O cabritinho correu a abrir, mas ao pôr a mão no ferrolho, desconfiou. E pediu:
— Mostre-me a pata branca, faz favor...
Pata branca era coisa que o lobo não tinha e que não poude mostrar, portanto. E de focinho comprido, desapontadissimo, não teve remedio senão ir-se embora como veiu — de papo vazio...
Assim se salvou o cabritinho, porque teve a boa idéa de confiar, desconfiando...
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.