[Fl. 7-r.][C]omta-sse que hũa cadella prenhe, queremdo parir e nom avemdo casa, disse a outra cadella, que era muyto ssua amigua, a quall tijnha hũa fremosa casa:
— Rrogo-te, amigua, que me emprestes a tua casa ataa que eu payra meus fi[lhos][1].
A cadella rrespomdeo que lh’a queria emprestar de boamente. E leuou haa[2] dicta cadella prenhe pera ssua casa, e leixou-lhe a casa ataa que parisse.
Esta cadella prenhe pario e fez sseus filhos. E d’hi a hũu çerto tempo tornou a cadella cuja era a casa, e rrogou aa outra cadella que lhe desembargasse ssua casa. E a cadella muyto hirosa ssayo fora com sseus filhos;[3] compeçarom a dizer muytas maas palauras e morder todos na cadella, dizemdo:
— Falsa rribalda, nom ssabemos que dizes, ca esta casa he nossa.
E veemdo a cadella que sse nom pudia defemder da madre e dos filhos, fugio e leixou-lhe a casa.
Em aquesta hestoria ho douctor nos dá emsinamento e diz que nós nom deuemos creer aquelles que nos querem emguanar com falsas e doçes palauras. Ca muytas vezes acomteçe que muytos homẽes no mundo ssom emguanados com emguanos de palauras doçes. E esto sse entemde d’aqueles que hũa palaura dizem pella boca, e outra teem no coraçom[4].