[Fl. 7-v.][C]omta-sse que no tempo do jmuerno hũa sserpemte muy fremosa jazia arriba d’hũa auga corremte, e jazia tamto fria com o rregelado, que nom ssabia de ssy parte. E hũu villãao, passamdo per o dicto rribeyro, vio a dicta serpente muyto fremosa com muytas diuersas colores, e ouue doo d’ella, porque ha via assy morta de frio, e tomou-ha e meteo-ha no seo. E leuou-ha a ssua casa, e mandou fazer muy gramde foguo, e tirou ha serpemte do seo e posse-ha açerqua d’elle, e aqueemtaua-a o milhor que elle podia; e quando a serpemte foy bem queemte, vio-sse poderosa e leuamtou-sse em pee comtra ho villãao, deytamdo comtra elle peçonha pella boca, e queria[1]-ho morder. E o villãao, veemdo esto, fez quanto pode ataa que a lamçou fora de casa com gram t[r]abalho[2].
[Fl. 8-r.]Em aquesta estoria o doctor nos emsina que nom deuemos ajudar os maaos[3] homẽes quamdo os veemos em algũus prijgos[4], porque, sse algũu bem lhe fazemos, ssempre d’elles aueremos maaos mereçimentos, como fez esta coobra, que deu maao gualardom àquel[5] que a liurou do prijgo[6] da morte.