[P]om emxemplo este poeta e diz que hũu vilãao criou hũu coobra per espaço de tempo. Hũu dia deu este vilãao hũa cuitelada na cabeça aa cobra: fugio[1] d’elle, e o vilãao afaagaua-a, que sse tornasse pera ell, e pedio-lhe perdom, e a coobra lhe disse:
— Eu te perdoo[2], mas nom quero mays viuer com tiguo, ca ssempre me temeria d’aquy avamte de ty que me désses outra tal ferida; e ja com tiguo nom viueria ssegura: pois me /[Fl. 42-r.] nom foste lleall amiguo, ja nunca auerey fiuza em ty.
E dictas as palauras, a cobra sse partio d’elle.
Per este emxemplo este poeta nos amoesta que nós nom deuemos comfiar d’aquelles que nos hũa vez emganam, porque assy como nos emganam hũa uez, assy uaam cuidando d[e n]os[3] emguanar outra, ca ho bem que nos faz o homem que nom he fiell nom se deue chamar «bem», mas «mall».
Notas
editar- ↑ Talvez falta a coobra (sujeito), por equivoco com a palavra anterior; todavia ha outros exemplos analogos de omissão de sujeito.
- ↑ Passa aqui uma dobra, de modo que d’esta palavra só se vê poo (estando cortada a haste do p). Não era perdõo, pois não ha vestigios de til. Noutros casos o ms. tem perdoar, sem til.
- ↑ Onde ponho colchetes o ms. está roto.