lhe guardaua sseu gaado, que llobo nem outra anymalia nom lhe fazia dapno; e com todo esto o leom escpreueo[1] muy bem no sseu coraçom o seruiço que lhe o pastor fezera.
E d’emde a poucos dias ffoy tomado aquele liom em hũu laço e foy posto em Rroma com outros liõoes. D’aly a çerto tempo o pastor fez hũu maleficio; e mamdou a justiça que o metessem com os liõoes, que o matassem: e ffoy posto amtre elles. /[Fl. 19-v.] O leam a que ell tirára a espinha ho conhoçeo e chegou-sse a elle e andaua-o lanbendo e defendia-o dos outros lleõoes que lhe nom fezessem mall. Veemdo os senadores[2] esta maravilha, forom muyto espantados, e por esto perdoarom a morte ao pastor.
Em este emxemplo este poeta nos dá emssinamemto que per pequeno nem gram tempo nom nos deuem d’esqueeçer os seruiços rreçebydos, mays ssenpre os deuemos teer no coraçom e dar bom gualardom aaquelles que nos boos seruiços fezerom. Mas aquell que boo he, assy ffaz; o que maao he, depoys que rreçebe o seruiço, nom sse quer lenbrar d’aquell de que[3] rreçebeo boas obras. Mas o leom, porque he nobre, lenbrou-sse da boa obra que lhe o pastor fezera, e deu-lhe boo galardom.
[Fl. 20-r.][P]om enxemplo este poeta e diz que hũu cauallo amdaua em hũu prado a pasçer, e ueo hũu lleom e disse ao cavalo:
— Porque comes essa herua?
O cavalo lhe disse que a comia por meezinha, ca era muyto doemte.
E o leom lhe disse:
— Irmãao, ssabe por çerto que eu ssom gram phisico: pero leixa-me tocar teu pulsso e darey-te meezinha, que loguo sserás ssãao.
O cavallo conheçeo que o leom dizia esto maliçiosamente pera o matar, e cuydou em sseu coraçom[4] outra maliçia e disse:
— Mestre amiguo, eu traguo hũa espinha no pee: rroguo-te que m’a tires.
O leom acostou-sse ao caualo por de tras pera ueer a espinha, e o cauallo lhe deu hũu par de couçes na cabeça que o deytou em terra