do castello do Valle. Estava quasi proximo ao promontorio da casa de Gilliatt.
Gilliatt via-o approximar-se.
O ar e o mar estavam como que adormecidos. A maré enchia, não por meio de ondas, mas por entumecimento. O nivel d’agua ia-se levantando sem palpitação. O vento do largo mar, extincto, assemelhava-se a um halito de infante.
Ouvia-se na direcção da porta de Saint-Sampson pequenos golpes surdos, que eram martelladas. Provavelmente eram os carpinteiros que levantavam guindastes e pranchas para tirar a machina da pança. Esse rumor mal chegava a Gilliatt, por causa da massa de granito a que elle estava encostado.
O Cashmere approximava-se com uma lentidão de phantasma.
Gilliatt esperava.
De subito uma agitação d’agua e uma sensação de frio obrigaram-n’o a olhar para baixo. A agua tocava-lhe os pés.
Gilliatt abaixou os olhos e levantou-os.
O Cashmere estava perto.
O rochedo onde as chuvas tinham cavado a cadeira Gild’-Holm’Ur, era tão vertical, e havia tanta agua naquelle sitio, que os navios podiam, em tempo de calma, passar alli a distancia de algumas braças.
O Cashmere chegou. Surgio, alçou-se. Parecia crescer sobre a agua. Foi como que um crescimento de sombra. Todo o apparelho destacou-se como massa negra, no céo azul, e no magnifico balanço do mar. As longas velas, por um instante sobrepostas ao sol, tornavam-se quasi côr de rosa e tiveram uma transparencia inefavel.