ECO (o mito da repetição sonora) → Narciso → Orfeu
"Aquela que não sabe falar em primeiro lugar,
que não pode calar-se quando alguém fala com ela,
e que repete apenas os últimos sons da voz que lhe chega" (Ovídio).
A figura mítica dessa bela jovem foi criada pelos gregos para explicar a origem do fenômeno físico do "eco", a continuada repetição de um som a longa distância. Segundo uma versão do mito, Eco era uma ninfa das montanhas, pertencente ao séqüito de Hera (→ Juno), mas cúmplice de Júpiter: com seu canto e sua tagarelice entretinha a esposa divina, enquanto o deus todo poderoso ficava paquerando as ninfas. Quando a ciumenta Juno se apercebeu do estratagema, castigou a jovem ninfa privando-a da fala, sendo-lhe permitido apenas pronunciar a última sílaba de uma palavra. O castigo foi cruel, pois Eco, apaixonada por Narciso, não conseguia declarar-lhe seu amor, sendo por ele abandonada. A ninfa, desesperada, embrenhou-se nos bosques e foi definhando até restar dela apenas uma voz que faz eco nas montanhas. Esta lenda, que se encontra descrita nas Metamorfoses do poeta latino Ovídio, associa o mito de Eco ao de Narciso, relacionando o nome da ninfa com o étimo eikôn, que significa "imagem" (de onde veio "ícone", "iconografia"): como Narciso reflete seu rosto na fonte, assim Eco, pela repetição do som, cria uma imagem sonora. Já uma variante do mito de Eco relaciona a ninfa com Pã, o deus dos bosques, conforme o relato que se encontra na pastoral Dáfnis e Cloe do romancista grego Longus, séc. II d.C. (→ Dafne) Aqui, Eco é uma mortal, filha de uma ninfa, que possui o dom da música e do canto, duplamente vítima de Pã. Este deus castigou a moça quer porque lhe invejava a beleza do seu canto quer porque ela lhe recusara seu amor. Para vingar-se, Pã "suscitou um acesso de furor nos pastores e guardadores de cabras", que despedaçaram o corpo da bela jovem e "espalharam pela terra seus membros que cantavam ainda". Sua voz passou a imitar todos os sons: de deuses, de homens, de objetos, de instrumentos, de gritos de bichos. Por essa versão, a figura mitológica de Eco liga-se aos poderes espirituais da música, aproximando Eco de Orfeu. A par de outros mitos fecundadores, a lenda de Eco teve múltiplas versões literárias e musicais.