Pag. 1. — Onde canta a jandaia. - Diz a tradicção que Ceará significa na lingua indigena — canto de jandaia.

Ayres do Casal, Corographia Brasilica, refere essa tradicção. O senador Pompêo em seu excellente diccionario topographico, menciona uma opinião, nova para mim, que pretende vir Siará da palavra suia-caça, em virtude da abundancia de caça que se encontrava nas margens do rio. Essa ethmologia é forçada. Para designar quantidade, usava a lingua tupy da desinencia iba; a desinencia ára junta aos verbos designa o sujeito que exercita a acção actual; junta aos nomes o que tem actualmente o objecto — exp.: Coatyara— o que pinta; Jussara — o que tem espinho.

Ceará é o nome composto de cemo — cantar forte, clamar, e ará, pequena arara ou periquito. Essa é a ethmologia verdadeira; e não só conforme com a tradicção, mas com as regras da lingua.


Pag. 2. — I. Giraó - Na jangada é uma especie de estrado onde acommodão os passageiros: e as vezes o cobrem de palha. Em geral é qualquer estiva elevada do solo e suspensa em forquilhas.

II. Rugitar — é um verbo de minha composição para o qual peço venia. Felinto Elisio creou ruidar de ruido.


Pag. 4. — I. Iracema. — Em guarany significa labios de mel — de ira — mel e tembe labios, Tembe na composição altera-se em ceme, como na palavra ceme-yba.

II. Grauna é o passaro conhecido de côr negra luzidia. — Seu nome vem por corrupção de guira passaro, e una; abreviação de pixuna, preto.

III. Jaty. — Pequena abelha que fabrica delicioso mel.

IV. Ipú. — Chamão ainda hoje no Ceará certa qualidade de terra muito fertil, que fórma grandes corôas ou ilhas no meio dos taboleiros e sertões, e é de preferencia procurada para a cultura. Dahi se deriva o nome dessa comarca da provincia.

V Tabajaras. — Senhores das aldeias — de taba — aldeia — e —jara senhor. Essa nação dominava o interior da provincia, especialmente a Serra de Ibyapaba.


Pag. 5. — I. Oytycica. — Arvore frondosa, apreciada pela deliciosa frescura que derrama sua sombra.

II. Gará.—Ave palludal, muito conhecida pelo nome de guará. Penso eu que esse nome anda corrompido de sua verdadeira origem que é— ig, agua e ará, arara; arara d´água, pela bella côr vermelha.

III. Ará—periquito. Os indigenas como augmentativo usavão repetir a ultima sillaba da palavra e as vezes toda a palavra—como murémuré. Muré—frauta—muremuré grande frauta. Arára vinha a ser pois o augmentativo de ará, e significaria a especie maior do genero.

IV. Urú.—Cestinho que servia de cofre ás selvagens para guardar seus objectos de mais preço e estimação.

V. Crautá.—Bromelia vulgar, de que se tirão fibras tão ou mais finas que as do linho.

VI. Jussara.—Palmeira de grandes espinhos, das quaes servem-se ainda hoje para dividir os fios da renda.


Pag. 6Uiraçaba—aljava—de uira seta e á desinencia—caba—cousa propria.

II. Quebrar a frecha.—Era entre os indigenas a maneira symbolica de estabelecerem a paz entre as diversas tribus, ou mesmo entre dois guerreiros ennemigos. Desde já advertimos que não se extranhe a maneira por que o estrangeiro se exprime fallando com os selvagens: ao seu perfeito conhecimento dos usos e lingua dos indigenas, e sobretudo á ter-se conformado com elles aponto de deixar os trajos europeos e pintar-se, deveu Martim Soares Moreno a influencia que adquirio entre os indios do Ceará.


Pap. 9.—Ibyapaba.—Grande serra que se prolonga ao norte da provincia e a extrema com Piauhy. Significa terra aparada. O Dr. Martius em seu glossario lhe atribue outra athmologia. Iby-terra—e pabe—;tudo. A primeira porém tem a authoridade de Vieira.


Pag. 10Igaçaba—de ig—agua e a desinencia çaba—cousa propria.

II.—Vieste.—A saudação usual da hospitalidade era esta.—Ere ioubê—tu vieste? — Pa-aiotu, vim, sim. Auge-be, bem dito. Veja-se Lery, pag. 286.


Pag. 11.—I.Jaguaribe—maior rio da provincia; tirou o nome da quantidade de onças que povoavão suas margens. Jaguar—onça—iba—desinencia para exprimir copia, abundancia.

II. Martim.—Da origem latina de seu nome, procedente de Marte, deduz o estrangeiro a significação que lhe dá.

III. Pytiguaras.—Grande nação de indios que habitava o litoral da provincia e estendia-se desde o Parnayba até o Rio Grande do Norte. A orthographia do nome anda mui viciada nas differentes versões, pelo que se tornou dificil conhecer a ethmologia.

Iby significava terra; iby-tira veio a significar serra, ou terra alta. Aos valles chamavão os indigenas iby-tira-cua—cintura das montanhas. A desinência jara senhor, acrescentada, formou a palavra Ibyticuara, que por corrução deu Pytiguara—senhores dos valles.

IV.Máo espirito da floresta. Os indigenas chamavão á esses espiritos caa-pora habitantes da mata, donde por corrupção veio a palavra caipora, introduzida na lingua portugueza em sentido figurado.


Pag. 12.—As mais belas mulheres.—Este costume da hospitalidade americana é attestado pelos chronistas. A elle se attribue o bello rasgo de virtude de Anchieta, que para fortalecer a sua castidade, compunha nas praias de Iperoig o poema da Virgindade de Maria, cujos versos escrevia nas areias humidas, para melhor os polir.


Pag. 13.—Jurema.—Arvore mean, de folhagem espessa; dá um fructo excessivamente amargo, de cheiro acre, do qual juntamente com as folhas e outros ingredientes preparavão os selvagens uma bebida, que tinha o effeito do hatchis, de produzir sonhos tão vivos e intensos, que a pessoa fruia nelles melhor do que na realidade. A fabricação desse licor era um segredo, explorado pelos Pagés, em proveito de sua influencia. Jurema é composto de ju—espinho e rema cheiro desagradavel.

II. Irapuam—de ira-mel e apuam redondo: é o nome dado á uma abelha virulenta e brava, por causa da forma redonda de sua calmea. Por corrupção reduzio-se esse nome actualmente á arapuá. O guerreiro de que se trata aqui é o célebre Mel-Redondo, assim chamado pelos chronistas do tempo que traduzirão seu nome ao pé da lettra. Mel-Redondo chefe dos Tabajaras da serra de Ibyapaba foi encarniçado inemigo dos Portuguezes, e amigo dos Francezes.

III. Acaraú.— O nome do rio é Acaracú— de acará garça—co—buraco, toca, ninho e y—som dubio entre i e u, que os portuguezes, ora exprimião de um, ora de outro modo, significando agua. Rio do ninho das garças é, pois, a traducção de Acaracú; e rio das garças a de Acaraú. Usou-se aqui da liberdade horaciana para evitar em uma obra litteraria, obra de gosto e artistica, um som aspero e ingrato. De resto quem sabe si o nome primitivo não foi realmente Acaraú, que se alterou como tantos outros, pela introdução da consoante?

IV. Estrella morta.—A estrella polar por causa de sua mimobilidade; orientavão-se por ella os selvagens durante a noite.



Pag. 14.—I. Boiciminga—é a cobra cascavel, de boia, cobra e cininga chocalho.

II. Oitibó—é uma ave nocturna, especie de coruja.



Pag. 26.—I. Espiritos da treva.—A esses espiritos chamavão os selvagens curupira, meninos máos—de curumim, menino, e pira máo.

II. Boré—frauta de bambú,—o mesmo que muré.

III. Ocara—praça circular que ficava no centro da taba, cercada pela estacada, e para a qual abrião todas as casas. Composto de oca casa e a desinencia ara, que tem; aquillo que tem a casa, ou onde a casa está.



Pag. 17.—I. Potyuara—comedor de camarão; de poty— e uara. Nome que por despreso davão os ennemigos aos Pytiguaras, que habitavão as praias e vivião em grande parte da pesca.

Este nome dão alguns escriptores aos Pytiguaras, porque o receberão de seus ennemigos.

II. Pocema—grande alarido que fazião os selvagens nas occasiões solemnes como em começo de batalha, ou nas expansões da alegria; é palavra adoptada ja na lingua portugueza e inserida no diccionario de Moraes. Vem de po -mão, e cemo clamar; clamor das mãos, porque os selvagens acompanhavão o vozear com o bater das palmas e das armas.

III. Andira—morcego: é em allusão á seu nome que Irapuam dirige logo palavras de despreso ao velho guerreiro.



Pag. 20.—Acacaty.—Significa este nome bom tempo de ara e catú. Os selvagens do sertão assim chamavão as brisas do mar que sopprão regularmente ao cahir da tarde, e correndo pelo vale do Jaguaribe, se derramão pelo interior e refrigerão da calma abrasadora do verão. Dahi resultou chamar-se Aracaty o lugar de onde vinha a monção. Ainda hoje no Icó o nome é conservado a brisa da tarde, que sopra do mar.

Pag. 25.—Aflar.—Sobre este verbo que introduzi na lingua portugueza do latim afflo, já escrevi o que entendi em nota de uma segunda edicção da Diva, que brevemente ha de vir a luz.

Anhanga.—Davão os indigenas este nome ao espirito do mal; compõe-se de anho só e angá alma. Espirito só, privado de corpo, fantasma.



Pag. 32.—I.Camocim—Vaso onde encerravão os indigenas os corpos dos mortos e lhes servia de tumulo; outros dizem camotim, e talvez com melhor orthographia, porque se não me engano, o nome é corrupção da frase co buraco, ambyra defuncto, anhotim enterrar—buraco para enterrar o defuncto: c´ am´ otim. O nome dava-se tambem á qualquer pote.

II.Guabiroba.—Deve ler-se Andiroba. Arvore que dá um azeite amargo.

III. Cabellos do sol—em tupy guaraciaba. Assim chamavão os europeus que tinhão os cabelos louros.



Pag. 35.—Do verbo mocáem assar na labareda. Era a maneira por que os indigenas conservavão a caça para não apodrecer, quando a levavão em viagem. Nas cabanas a tinham no fumeiro.

II. Senhor do caminho—Assim chamavão os indigenas ao guia, de py-caminho e guara, senhor.



Pag. 36.—O dia vae ficar triste.—Os tupys chamavão a tarde carúca, segundo o diccionario. Segundo Lery, che caruc acy significa—«estou triste.» Qual destes era o sentido figurado da palavra? Tirarão a imagem da tristesa, da sombra da tarde, ou imagem do crepusculo, do torvamento do espirito?



Pag. 37.—I.Jurupary—demonio; de juru-boca e apara torto, aleijado. O boca torta.

II.Ubaia—fructa conhecida da especie engenia. Significa fructa saudavel de uba-fructa e aia saudavel.



Pag. 40.—I.Jandaia.—Este nome que anda escrito por diversas maneiras nhendaia, nhandaia e em todas alterado é apenas um adjectivo qualificativo do substantivo ará. Deriva-se elle das palavras nheng —falar—antan, duro, forte, aspero, e ara desinencia verbal que exprime o agente: nh´ ant´ ara; substituido o t por d—e o r por i, tornou-se nhandaia, donde jandaia, que se traduzirá por periquito grasnador.

Do canto desta ave, como se vio, é que vem o nome de Ceará, segundo a ethmologia que lhe dá a tradição.

II. Inhuma.—Ave nocturna palamedea. A especie de que se falla aqui é a palamedea chavaria, que canta regularmente a meia-noite. A orthographia melhor creio ser anhuma, talvez de anho, só, e anum, ave agoureira condecida. Significaria então anum solitário, assim chamado pela tal ou qual semelhança do grito desagradavel.



Pag. 42.—Inubia.—Trombeta de guerra. Os indigenas, segundo Lery, as tinhão tão grandes que medião um deametro na abertura.



Pag. 44.—Guará.—Cão selvagem, lobo brasileiro. Provem esta palavra do verbo ucomer, do qual se forma com o relativo G e a desinencia ara o verbal g-u-ára comedor. A sillaba final longa é a partícula propositiva ã que serve para dar força à palavra.

G-u-ára-ã realmente comedor, voraz.



Pag. 45.—Giboa.—Cobra conhecida; de gi machado, e boia cobra. O nome foi tirado da maneira por que a serpente lança o bote, semelhante ao golpe do machado; pode traduzir-se bem: cobra de arremesso.



Pag. 46.—I.Sucury.—A serpente gigante que habita nos grandes rios e engole um boi. De Suu, animal e cury ou curu roncador. Animal roncador, porque de feito o ronco da sucury é medonho.

II. Si pe que tens sangue e não mel. Allusão que faz o velho Andira ao nome de Irapuam, o qual como se disse, significa mel redondo.



Pag. 47.—Ouve seu trovão.—Todo esse episodio do rugido da terra é uma astucia, como usavam os pajés e os sacerdotes de toda a nação selvagem para imporem á imaginação do povo. A cabana estava assentada sobre um rochedo, onde havia uma galeria subterrânea que communicava com a varzea por estreita abertura; Araken tivera o cuidado de tapar com grandes pedras as duas aberturas, para occultar a gruta dos guerreiros. Nessa occasião a fenda inferior estava aberta e o Pagé o sabia; abrindo a fenda superior, o ar encanou-se pelo antro espiral com estridor medonho, e de que pode dar uma idéa o sussurro dos caramujos.—O facto é pois natural; a apparencia sim é maravilhosa.



Pag. 48.—Abaty n'agua.—Abaty—arroz; Iracema serve-se da imagem do arroz que só viça no alagado, para exprimir sua alegria.



Pag. 61.—Ubiratau.—Páo ferro de ubira — páo e antan duro.

Pag. 62.—I. Maracajá.— Gato selvagem.

II. Caetetus.—Porco do mato, especie de javali brasileiro. De caeté — mato grande e virgem— e suu — caça, mudado o s em t na composição pela euphonia da lingua. Caça do mato virgem.

III. Jaguar.—Vimos que guará significa voraz. Jaguar tem inquestionavelmente a mesma etimologia; é o verbal guara e o pronome nós. Jaguar era pois para os indigenas todos os animaes que os devoravão.Jaguareté o grande devorador.

IV. V. Anajê — Gavião.



Pag. 65.—Acauan, Ave ennemiga das cobras—de caa páu e uan— do verbo u, que come páo.



Pag. 66.—Sahy. — Lindo passaro, azul.



Pag. 68.—Carioba.—Camisa de algodão; de cary branco e oba roupa. Tinhão tambem a arassoia de arára e oba, vestido de pennas de arara.

Pag. 68.—A' cintura da virgem.—Os indigenas chamavam a amante possuída aguaçaba, de aba homem,cua cintura, çabacoisa própria; a mulher que o homem cinge, ou traz à cintura. Fica, pois, claro o pensamento de Iracema.

Pag. 72.—Jacy.A Lua. De já — pronome nós, e cy — mãe.—A Lua exprimia o mez para os selvagens; e seu nascimento era sempre por eles festejado.



Pag. 73.—Fogo da alegria.—Chamavão os selvagens tory — os faxos ou fogos; e toryba, a alegria, a festa, a grande copia de fachos.



Pag. 74.—Bucan.—Significa uma especie de grelha que os selvagens fazião para assar a caça; dahi vem o verbo francês boucaner. A palavra é da língua tupy.



Pag. 75.—I. Acoty—cotia. II. Abaeté—Varão abalizado; de aba—homem, e eté—orte, egregio.

Pág. 83.— Jacaúna— jacarandá preto—de jaca, abreviação de jacarandá, e una, preto. Este Jacaúna é o célebre chefe, amigo de Martim Soares Moreno.



Pag. 84. Coandù— Porco espinho.



Pag. 85. Seu colar de guerra—O collar que os selvagens fazião dos dentes dos ennemigos vencidos era um brasão e tropheo de valentia.



Pag. 88.—I. Japy— significa, nosso pé, de —pronome, nós e py pé.

II. Ibyapina—De Iby-terra e apino, tosquiar.

III. Jatobá—grande arvore real. O lugar da scena é o sítio da hoje Villa Viçosa, onde diz a tradicção ter nascido Camarão.



Pap. 92.—Meruoca.—De meru, mosca, e oca, casa. Serra junto de Sobral fertil em mantimentos.

Pag. 93.—I. Uruburetama— Pátria ou ninho de urubus: serra bastante alta.

II. Mundahu—rio muito tortuoso que nasce na serra de Uruburetama. Mundé, cilada, e hu rio.

III. Potengi—rio que rega a cidade de Natal, donde era filho Soares Moreno.



Pag. 95.—As saborosas trahiras—E' o rio Trahiry trinta leguas ao norte da capital. De trahyra, peixe, e y, rio. Hoje é povoação e destricto de paz.



Pag. 96.—I. Soipè—paiz da caça. De Sôo caça, e ipè, lugar onde. Diz-se hoje Siupé, rio e povoação pertencente á freguesia e termo da Fortaleza, situada á margem dos alagados chamados Jaguarusaú na embocadura do rio.

II. Pacoty—rio das pacobas. Nasce na serra de Baturité e lança-se no oceano duas legoas ao norte de Aquirás.

III. Iguabe—enseada distante duas legoas de Aquirás. De ig — agua, cua centura e ipé, onde.



Pag. 97.—Mocoribe—morro de areia na enseada do mesmo nome á uma legua da Fortaleza; diz-se hoje Mucuripe. Vem de Corib alegrar e mo particula ou abreviatura do verbo monhang fazer, que se junta aos verbos neutros e mesmo activos para dar-lhes significação passiva—exp. caneon, affligir-se, mocaneon fazer alguem afflicto.

II. Rio que forma um braço de mar—E' o Parnahyba, rio de Piauhy. Vem de Pará, mar, nhanhe, correr e hyba, braço; braço corrente do mar. Geralmente se diz que Pará significa rio e Paraná mar; é inteiramente o contrário.



Pag. 99.—I. Mayry—cidade. Talvez provenha o nome de mayr estrangeiro, e fosse applicado aos povoados dos brancos em opposição ás tabas dos indios. II. Brancos tapuios—em tupy, tapuitinga, Nome que os Pytiguaras davão aos francezes para differença-los dos Tupinambás. Tapuia, significa barbaro, ennemigo. De taba, aldeia e puyr—os fugidos da aldeia.



Pag. 101.—I. Batuiretê— narceja illustre; de batuira e etê. Appellido que tomára o chefe pytiguara, e que na linguagem figurada valia tanto como valente nadador. E' o nome de uma serra fertilissima e da comarca que ella ocupa.

II. Suas estrellas erão muitas.—Contavão os indigenas os annos pelo nascimento das pleiades no oriente; e tambem costumavão guardar uma castanha de cada estação de cajú, para marcar a idade.

III. Jatobá—arvore frondoza, talvez de jetahi, oba — folha, e a, augmentativo; jetahy de grande copa. E' nome de um rio e de uma serra em S. Quitéria.



Pag. 102.—I. Quixeramobim—segundo e Dr. Martius traduz-se por essa exclamação do saudade. Compõe-se de Qui— ah!, xere, meus, amôbinhê, outros tempos.

II. Caminho das garças—Em tupy Acarape, povoação na freguezia de Baturite á nove léguas da capital.

Pag. 103.—Maranguab.—A serra de Maranguape distante cinco leguas da capital, e notavel pela sua fertilidade e formosura. O nome indigena compõe-se de maran guerrear e coaub sabedor; maran, talvez seja abreviação de maramonhang, fazer guerra, se não é, como eu penso, o substantivo simples guerrar, de que se fez o verbo composto. O Dr. Martius traz ethmologia diversa. Mara arvore, angai, de nenhuma maneira, guabe, comer. Esta ethmologia nem me parece propria ao objecto que é uma serra, nem conforme com os preceitos da lingua.

II. Pirapora.—Rio de Maranguape, notavel pela frescura de suas aguas e excellencia dos banhos chamados de Pirapora, no lugar das cachoeiras. Provem o nome de Pira, peixe, pore, salto: salto do peixe.



Pag. 104.—O gavião branco.—Batuiretê chama assim o guerreiro branco, ao passo que trata o neto por narseja; elle prophetisa nesse parallelo a destruição de sua raça pela raça branca.



Pag. 108.—Porangaba—significa belleza. E' uma lagoa distante da cidade uma légua em sitio aprasivel. Hoje a chamão Arronches: em suas margens está a decadente povoação do mesmo nome.

II. Jererahu—rio das marrecas; de jerere—ou irerê, marreca, e hu, agua. Este lugar ainda hoje é notavel pela excellencia da fructa, com especialidade as bellas laranjas conhecidas por laranjas de Jererahu.



Pag. 109.—I. Sapiranga— lagoa no sitio Alagadiço Novo, a cerca de 2 leguas da capital. O nome indigena significa olhos vermelhos, de ceça, olhos, e piranga vermelhos. Esse mesmo nome dão usualmente no Norte a certa ophtalmia.

II. Murityapuá—de murity—nome da palmeira mais vulgarmente conhecida por burity, e apuan, ilha. Lugarejo no mesmo sitio referido.

III. Aratanha—de arara, ave, e tanha, dente. Serra mui fertil e cultivada, em continuação da de Maranguape.

IV. Pacatuba—de paca e tuba, leito ou couto das pacas. Recente, mas importante povoação, em um bello valle da serra da Aratanha.

V. Guayùba.—De goaia, vale, y, agua, jur, vir, be, por onde; por onde vem as aguas do valle. Rio que nasce na serra da Aratanha e corta a povoação do mesmo nome á seis leguas da capital.



Pag. 112.—Ambar. As praias do Ceará erão nesse tempo muito abundantes de ambar que o mar arrojava. Chamavão-lhe os indigenas, pira repoti, esterco de peixe.



Pag. 113.—Coatya—pintar. A Historia, menciona esse facto de Martim Soares Moreno se ter coatyado quando vivia entre os selvagens do Ceará.



Pag. 115.—Coatyabo.—A desinencia abo significar o objecto que soffreu a acção do verbo, e talvez provenha de aba, gente, creatura.



Pag. 117.—Colibri.—Desse lethargo do colibri no inverno falla Simão de Vasconcelos.

Pag. 125.—Mocejana. —Lagoa e povoação a 2 léguas da capital. O verbo cejar significa —abandonar; a desinência ana indica a pessoa que exercita a acção do verbo. Cejana—significa o que abandona. Junta a partícula mo do verbo monhang, fazer, vem a palavra a significar o que fez abandonar ou que foi lugar e occasião de abandonar.

II.—Carbeto.—Especie de serão que fazião os indios á noite em uma cabana maior, onde todos se reunião para conversar. Leia-se D'Evreux: Viagem ao norte do Brasil.



Pag. 126.—Monguba.—Arvore que dá um fructo cheio de cotão, semelhante ao da sumauma, com a differença de ser negro. Dahi veio o nome de uma parte da serra de Maranguape, onde tem estabelecimento rural o tenente coronel João Franklin de Alencar.



Pag.128.—Imbu.—Fructa da serra do Araripe que não vem no litoral. E' saborosa e semelhante ao cajá.



Pag. 129.—Jacarecanga—Morro de areia na praia do Ceará, afamado pela fonte de agua fresca purissima. Vem o nome de jacaré, crocodilo e acanga cabeça.

Pag. 133.—Japim—Passaro côr de ouro com encontros pretos e conhecido vulgarmente pelo nome de soffrer.



Pag. 134. Folha escura, a murta, que os indigenas chamavam capixuna— de caa— rama, folhagem, e pixuna escuro. Dahi vem a figura de que usa Iracema para exprimir a tristesa que ella produz no esposo.



Pag. 136.—I. Tupinambás.—Nação formidavel, ramo primitivo da grande raça tupy. Depois de uma resistencia heroica, não podendo expulsar os portuguezes da Bahia, emigrarão até o Maranhão onde fizerão alliança com os franceses que já então infestavão aquellas paragens. O nome que elles se davão significa—gente parente dos Tupys—de Tupyanama—aba.

II.—Maracatim—Grande barco que levava na proa —tim—um maracá. Aos barcos menores ou canoas chamavam igara, de igagua e jara, senhor; senhora d´água.



Pag. 137.—I. Caiçara, de cai, pau queimado e a desinência çara, cousa que tem, ou se faz. O que se faz de pau queimado. Era uma forte estacada de pau a pique.

II.—Bahia dos papagaios.—E a bahia da Jericoacoara, de jeru, papagaio, cua, varzea, coara, buraco ou seio; enseada da varzea dos papagaios. E' um dos bons portos do Ceará.



Pag. 140.—Moacir—Filho do soffrimento—de moacy, dôr e ira, desinencia, que significa sahido de.



Pag. 141.—Faxa.—E' o que chamão vulgarmente typoia; rejeitou-se o termo proprio do testo por andar degradado no estylo chulo.



Pag. 143.—Chupou tua alma—Creança em tupy é pitanga, de piter chupar, e anga alma; chupa alma. Seria porque as creanças attraehm e deleitão aos que as vêem; ou porque absorvem uma porção d’alma dos paes? Cauby falla nesse ultimo sentido.



Pág. 147.—Cariman.—Uma conhecida preparação de mandioca. Caric, correr, mani, mandioca. Mandioca escorrida.



Pag. 150.—Tauape, lugar do barro amarello, de tauá e ipé. Fica no caminho de Maranguape.



II.—Piau, peixe que deu o nome ao rio Piauhy.

III.—Velha taba,—Traducção de tapui-tapera. Assim chamava-se um dos estabelecimentos dos Tupinambás no Maranhão.

IV.—Itaoca—Casa de pedra, fortaleza.



Pag. 152.—Manacá—Linda flôr. Veja-se o que diz a respeito o Sr. Gonsalves Dias em seu diccionario.



Pag. 153.—Copim—Inseto conhecido. O nome compõe-se de co buraco, e pim ferrão.



Pag. 156.—Albuquerque. —Jeronimo de Albuquerque chefe da expedição ao Maranhão em 1612.