[Fl. 11-r.][F]oy hũa vez hũu coruo que estaua em çima de hũa aruor, e tijnha hũu pedaço de queyjo na boca pera comer. E em esto estamdo, chegou per hi a rraposa, e vio que o coruo tijnha o queyjo na boca, e começou-ho muyto de louuar, e dizia:
— Ho coruo, tu es hũa fremosa aue, — bramco e nobre! Sse tu ouuesses assy fremosa voz como tu has as ssimilidõoes do teu corpo, tu serias a mays fremosa ave do mundo! Rogo-te, ó amyguo, que camtes hũu pouco, ca muyto cobijço de te ouuyr camtar…
E o coruo, ouvindo ssuas palauras, começou de camtar; e cayo-lhe o queyjo da boca. E a rraposa o filhou muy asinha, e comê’-o[1], e escarneçemdo do coruo, dizia-lhe que era velhaco, e astrosa aue, e negro, e que o sseu camtar era muyto peor. Pola qual rrazom o coruo foy muyto nojoso polo escarnho que a rraposa d’elle fazia.
Em aquesta estoria o doctor nos emsina que nós nom deuemos creer pollas palauras meyguas, porque muytas vezes emganom os homẽes, e os homẽes quedam em vergomça, ca:
Muytas vezes o mell
Sse mistura com ffell.
Notas
editar- ↑ =comeo-o. No ms. comeo.