APOLO (Febo, Hélios, Sol, apolíneo, heliocentrismo)

Hélios, correspondente ao deus Sol dos romanos, é uma divindade pré-olímpica, cujo culto, aos poucos, foi substituído pela adoração do poderoso Apolo.

O mito sobre o astro luminoso do céu, que possibilita a vida na terra, é descrito, na cultura greco-romana, por vários nomes: Apolo, do verbo luô (libertar) ou louô (lavar); Febo, de phôs + bios (luz da vida); Hélios, (do grego aïolin (nuance das cores); Sol, do latim solus (o único). Filho de Júpiter e de Latona, perseguida pela ciumenta Juno, Apolo nasceu na ilha de Delos. Tinha a missão de trazer para a terra a luz, o calor e a vida. Toda a manhã, transportava seu coche dourado para o alto do céu e, à noite, se escondia atrás das montanhas. O Cosmos devia a ele não só a alternância dia/noite, mas também a mudança das estações: o inverno era causado pela ausência de Apolo, que anualmente viajava para o feliz país dos hiperbóreos, povo mítico que vivia na região do extremo norte, onde não soprava o vento Bóreas. Ligadas à sua prerrogativa fundamental, a luminosidade, estavam as múltiplas funções atribuídas a Apolo: pela luz cósmica, protegia a vida vegetal, animal e humana (patrono dos agricultores, dos pastores e dos navegantes); pela luz intelectual, era o protetor dos médicos e dos artistas; pela luz divina, era o deus dos oráculos, desvendando os mistérios da natureza. O mito da disputa entre Apolo e Mársias (ou Pá, segundo uma variante da lenda) representa a vitória da lira sobre a flauta, da música suave e harmoniosa sobre a música rude, da beleza sobre a fealdade, da forma sobre o disforme, da harmonia sobre a desordem, da medida sobre o excesso, da cultura sobre a natureza, da civilização grega sobre a barbárie asiática. A iconografia de Apolo é uma confirmação figurativa do conceito de beleza apolínea, entendida como harmonia de formas: abstraindo dos efebos as partes corporais mais bonitas, os artistas gregos procuraram chegar à criação de um modelo de beleza masculina, universal e absoluta, em que o todo fosse a resultante de partes proporcional e harmonicamente estruturadas. Apolo é apresentado, portanto, como o deus de todas as faculdades criadoras de formas. É o deus da luz, da ordem e da harmonia. Surge como uma "aparição" radiosa que revela ao mundo os segredos dos sonhos e desvenda os mistérios da vida. A arte que nele se inspira — a apolínea — tem como fundamento o sonho, a imaginação, a ilusão, um radical otimismo, a confiança nas forças do homem, considerado capaz de alcançar a vitória sobre o mal e a mentira. Apolo, com a musa Calíope, gerou Orfeu, poeta e músico, venerado pelos gregos porque seu canto abrandava a dor e fascinava homens, animais e minerais. A dor de Orfeu pela morte da amada Eurídice constitui uma das páginas mais líricas da mitologia clássica. Nas Artes Plásticas, Apolo é esculpido ou pintado como um belo jovem completamente nu ou munido de arco, de lira, de cítara ou de uma coroa de flores na testa. Suas estátuas mais conhecidas são: Apolo Sauroctone, cópia de um original do escultor grego Praxíteles, no Louvre; Apolo de Kassel, cópia de uma peça de Fídia; Apolo do Belvedere, no Vaticano. Na pintura, o Apolo mais bonito é o de Rafael, em plena Renascença, que se tornou o modelo clássico da beleza masculina. O adjetivo "apolíneo" foi inicialmente utilizado pelo filósofo alemão Nietzsche, em oposição ao "dionisíaco", para indicar obras de artes inspiradas por um conceito de beleza serena, luminosa, centrada na harmonia das formas, contrastando com a desordem e o espírito revolucionário inerente a Baco (→ Dionísio), o deus do vinho e do Carnaval. Vários estudiosos da Literatura e das outras artes se serviram muito dessa oposição apolíneo/dionisíaco em seus trabalhos de análise e interpretação → Crítica.

A região de maior culto ao Sol era a ilha da Sicília, no Sul da Itália, onde o deus possuía vastos rebanhos de bois e carneiros. O calor de seus raios fecundava a natureza toda: o mundo vegetal, animal e até humano, pois ele teve inúmeros filhos com várias deusas, ninfas e mulheres humanas. As ciências naturais, especialmente a física e a química, se serviram do nome ou do prefixo helio- para denominar vários fenômenos ou teorias: de "hélio", o mais leve dos gases, até "heliocentrismo", o sistema astronômico que considera o Sol como o centro do universo, o astro ao redor do qual transladam todos os planetas. Essa nova concepção da cosmologia é relativamente recente, pois, até o séc. XVII, ainda se acreditava no sistema ptolemaico ou geocentrista, que imaginava a Terra imóvel e centro do Universo, sendo o Sol a rodar ao seu redor. Os cientistas da Renascença européia, especialmente Newton, Copérnico (que deu o nome ao novo sistema) e Galileu, sofreram inutilmente para convencer os conservadores católicos de que o que está escrito no Gênesis (→ Bíblia) é pura fantasia.