Começa-se o prólogo em o livro que se chama Castelo Perigoso, e de como a devota Virgem Maria com grande prazer recebeu em o seu honrado castelo, convém a saber, no templo do seu glorioso corpo o rei e senhor do céu e da terra.
Primeiro capítulo – Com quem deve a haver paz quem quiser edificar algum castelo.
Capítulo segundo – Que o homem deve procurar e buscar confessor discreto e sabedor, que tenha poderio de absolver e ligar.
Capítulo terceiro – Que sem confissão nos não podemos salvar, e põe este autor exemplo.
Capítulo quarto – Em que põe outro exemplo e semelhável, e diz mais que a vergonha que o homem há em a confissão é grande[1] parte da pendência[2].
Capítulo quinto – Que o pecador deve a declarar as circunstâncias do pecado.
Capítulo sexto – Que fala dos pecados mortais e ramos que deles procedem.
Capítulo sétimo – Da inveja e diversas maneiras dela.
Capítulo oitavo – Da ira e diversas espécies dela.
Capítulo nono – Da preguiça e de como pecam os religiosos em muitos modos acerca deste pecado.
Capítulo Xº – Dessa mesma, e de como não há coisa tão vil e de tão grande dano como perder tempo.
Capítulo XIº – Da avareza e de como a propriedade em os religiosos é torpe pecado.
Capítulo XIIº – Da gargantuíce[4] e de diversas espécies e ramos dela. E aqui trata dos religiosos.
Capítulo XIIIº – Da luxúria e de como este pecado é mais grave e feio em os religiosos e religiosas.
Capítulo XIIIIº – Em que trata duma monja que discorreu em este pecado.
Capítulo XVº – Em põe outro exemplo e semelhável.
Capítulo XVIº – De seis coisas que se requerem à verdadeira confissão e de cinco que a embargam, e de como é muito perigosa coisa ao religioso amiúde sair fora do claustro[5].
Capítulo XVIIº – Da satisfação que deve ser feita pelo pecado, e de como o religioso pode ganhar paz e amor com seu abade.
Capítulo XVIIIº – Como se ganha a terceira Paz.
Capítulo XIXº – Da quarta paz, e de como para a ganhar é necessário falar pouco.
Capítulo XXº – Que a esposa de Jesus Cristo deve ser limpa e Virgem, e põe certos sinais da virgindade.
Capítulo XXIº – Do segundo sinal da virgindade, e de como sem vergonha nenhuma coisa pode ser honesta.
Capítulo XXIIº – Do terceiro sinal e quarto, e de como a corrupta torna virgem e recobra a graça antes perdida.
Capítulo XXIIIº – Porque razão o homem tem a cabeça inclinada à terra, e que a nossa morada não é aqui.
Capítulo XXIIIIº – Que o homem deve crer em Deus e em seus sacramentos.
Capítulo XXVº – Que a humildade verdadeira há de haver três graus; e quem humildoso é, mostra-o em traje e em palavras e em feito; e que sem ela não pode alguém prazer a Deus.
Capítulo XXVIº – Porque guisa fará homem arredar seus inimigos, se houver esforço; e de como é grande sandice crer homem mais aos outros da sua própria consciência que a si mesmo.
Capítulo XXVIIº – Que ignorância do próprio estado é humildade.
Capítulo XXVIII – Como a memória da morte é saudável e termo peremptório de todos pecados; e de como é santa coisa haver homem devoção em a Virgem Maria.
Capítulo XXIX – Que trata de muitas extremadas razões porque a Virgem, Gloriosa Senhora, deve ser servida.
Capítulo XXX – Como a memória do Juízo Eternal é proveitosa, e de quatro considerações dignas de notar.
Capítulo XXXI – Como o diabo, quando se vê vencido do primeiro combate, se trabalha combater as devotas pessoas por injúrias, vilanias, tribulações.
Capítulo XXXII – Que a paciência é muito necessária, e de como esta virtude nenhum a pode percalçar, salvo o que for tentado.
Capítulo XXXIII – Da paciência, em que se põe exemplo dessa mesma.
Capítulo XXXIIII – De quatro pensamentos e contemplações muito singulares e proveitosas.
Capítulo XXXV – Da caridade e de como se estende a amigos e a inimigos, e de como devemos a amar nossa salvação mais que a dos próximos.
Capítulo XXXVI – Que não há aí amor em que humanal coração haja folgança, senão em amar Deus, e de como este amor não pode a algum vir senão por pureza.
Capítulo XXXVII – Como amar Deus aviva muito a memória dos seus benefícios.
Capítulo XXXVIII – Como devota pessoa deve ser conhecida e pensar em as infinitas mercês e graças que recebeu de Deus.
Capítulo XXXIX – Como muito ama com grande fervor quem dá quanto tem sem alguma coisa reter.
Capítulo Quarenta – Da pobreza e paciência do Senhor, e de como é muito proveitoso pensar em seus tormentos.
Capítulo Quarenta e I – Da Paixão de Jesus Cristo.
Capítulo Quarenta e II – Dessa mesma.
Capítulo Quarenta e III – De como a Virgem Maria sofreu na alma todos os tormentos que faziam ao seu filho, e de como expirou.
Capítulo Quarenta e IIII – De três maneiras de lágrimas que havemos a haver da sua morte, e de como a hora de véspera foi descido da cruz.
Capítulo Quarenta e V – Que as devotas pessoas devem fazer em seu coração um sepulcro para receber o Nosso Senhor e sepultá-lo todo em nós.
Capítulo Quarenta e VI – Dos muitos benefícios que nos Deus fez desde que foi morto.
Capítulo Quarenta e VII – Como o sacramento da Eucaristia faz muitos proveitos àqueles que dignamente o recebam, e do maior amor que nos Deus mostrou.
Capítulo Quarenta VIIIº – Da Salve Regina e milagres dela, e do pensar que o homem deve a haver em os muitos benefícios de Deus; desde aí, como o verá de face a face.
Capítulo Quarenta IX – Dos cinco sentidos e das más línguas, e que pouco vale combater contra os outros vícios, se não retém sua língua.
Capítulo Cinqüenta – Que o olho não casto mensageiro é do coração não casto, e de VIII pontos de religião.
Capítulo Cinquenta I – Que não devemos escutar as más línguas, e de como com palavras duras devemos a afastar os maldizentes;
Capítulo LII – Da terceira porta que é cheirar;
Capítulo LIII – Da quarta porta, que pertence ao gosto, e o porteiro destas duas portas é a temperança.
Capítulo LIIII – Da quinta porta, que é o tocamento, e das quatro virtudes cardeais.
Capítulo LV – Que a vitualha da alma que faz forte o coração é a palavra de Deus, e de três maneiras de lágrimas e de como se ganham.
Capítulo LVI – Que o homem não deve presumir de si, posto que virtuoso seja, porque muitas vezes acontece que só por um feito se perde.
Capítulo LVII – Que quanto a pessoa é mais rica de graças, tanto se mais deve temer que lhe não faleçam as vitualhas espirituais, e que o monge (...) deve ter cada dia depois de completa, capítulo em si mesmo.
Capítulo LVIIIº – Que a devota pessoa que se vê apressada de desvairadas tentações e teme cair, ela se deve logo acorrer à oração, e põe exemplo; e posto que nos Deus ajude em as tentações, não porém nos livra de todas por nos avivar à batalha.
Capítulo LIX – Que a oração é um singular refúgio contra as tentações do pecado; e como é apurada de quatro coisas, e que alguma coisa é pedida ao Senhor não com sageza e que por tanto a não outorga.
Capítulo LX – Que o homem não deve viver por comer, mas comer por viver; e de como havemos a orar.
Capítulo LXI – Que o homem deve despender o domingo e festas em oração.
Capítulo LXII – Que a oração deve a haver duas asas; e de como em duas maneiras é empachada. Desde aí, que coisa que o homem faça em pecado mortal não aproveita quanto é à salvação.
Capítulo LXIII – Como a este castelo não falece senão a vela, que é o temor de Deus; e que de nosso estado não podemos haver certidões em quanto formos em esta mortal vida.
Capítulo LXIIII – De sete maneiras que há aí de temor.
Capítulo LXV – Como as três maneiras do temor sobre-ditas e derradeiras são três boas velas da nossa fortaleza.
Capítulo LXVI – Por que modo é assentado este castelo em terra de paz, e de como aí há quatro pensamentos muito proveitosos.
Capítulo LXVII[6] – Como a memória dos benefícios que Deus fez é muito boa.
Capítulo LXVIII – Como esta memória faz à devota pessoa fazer lágrimas.
INTRAUIT JHESUS IN QUODAM CASTELUM –Luce, XI capitulo
Esta palavra é escrita no Evangelho de São Lucas e posta por figura da Virgem Maria, madre do filho de Deus, porque este foi um castelo muito bem guarnido de cava de humildade e de muro de virgindade e de privilégios de todas virtudes e de abundância de todas graças. Este glorioso castelo achou o rei da glória assim prazível e deleitoso que houve grande desejo de o povoar e morar em ele, e enviou adiante seu mensageiro, em maneira de rei e grande senhor, que lhe fosse filhar a pousada.
Este foi o Arcanjo Gabriel que saudou a senhora do castelo devotamente, dizendo: "Ave Maria", etc. E a sage e devota virgem, como era de siso comprida, com grande prazer recebeu em seu honrado castelo, scilicet, no templo do seu glorioso corpo, o rei e senhor e imperador do céu e da terra. E isto é o que dizem as palavras susoditas.
E porque é coisa muito proveitosa seguir o exemplo desta honrada senhora, eu, com a ajuda do senhor Deus, quero ensinar a todos e a todas fundar de seus corações um castelo tão forte contra seus inimigos e tão formoso e tão bem guarnido de dentro que o doce rei Jesus Cristo, verdadeiro esposo das santas almas, se contente e haja prazer de morar em ele. Ca[7] disse por Salomão que seus vícios e prazeres são de estar e morar com os filhos dos homens.
Notas
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- ↑ O adjetivo, no original, é “gram” tanto em “gram prazer” quanto em “gram parte”, sendo assim invariável.
- ↑ Ao longo do texto, “pendência” vem por “penitência”.
- ↑ É neste ponto, ao fim do fólio 1r, que aparece a nota.
- ↑ Gula.
- ↑ No feminino, “a claustra”, no original.
- ↑ Apesar da referência neste índice, este capítulo e o seguinte simplesmente não existem. O final do capítulo 66 certamente parece ser uma conclusão, o que afasta a hipótese de o códice estar danificado.
- ↑ Ca parece ser uma conjunção consecutiva, algo como “pois”.