MOVIMENTO (Eras e Períodos culturais) → Diacronia → Idade → Revolução
Do verbo latino movere, o substantivo "movimento", indica qualquer deslocação no tempo (diacronia → Cronos) ou no Espaço (topologia). Estudado nas ciências físicas (atronomia e astrologia) e biológicas (Evolucionismo → Darwin), o movimento é usado quase como sinônimo de época ou período, componente de uma Era ou Idade (Antiga, Média e Moderna), na perspectiva histórica da evolução da cultura ocidental. Para o estudo da Literatura, ao lado da teoria dos gêneros (narrativo, lírico e dramático), encontramos a teoria dos movimentos literários, que enfrenta o problema da "periodização", isto é, a discutida questão da divisão da cultura em várias épocas. Na verdade, não existe um critério rigoroso para a denominação de idade, período, época ou movimento. Ora se recorre a rótulos políticos ("período vitoriano") ou históricos ("século XX", "geração de 30"), ora a rótulos culturais ("Renascimento"), artísticos ("rococó") ou especificamente literários ("Arcádia"). A diferença entre um "movimento" e um período ou época, pode ser encontrada na consciência do conflito com a concepção de arte do passado imediato. Assim, por exemplo, o Romantismo é um movimento cultural, pois se afirma em nítida oposição à cosmovisão de vida do Classicismo; enquanto o Barroco é apenas uma época ou período dentro do Classicismo, diferente mas não oposto ao período anterior, que foi a Renascença. Um movimento consciente, no plano histórico, corresponde a uma → Revolução.
Um período literário é constituído por um conjunto de obras, espacial e temporalmente delimitado, que se caracteriza, no plano da expressão, por um sistema de normas e cânones estéticos e, no plano do conteúdo, por um complexo de idéias que apresentam uma cosmovisão. Individualizar e descrever um período importa, portanto, em conhecer seu sistema de normas e seu código ideológico, rastejando sua origem (a partir da relação com o período imediatamente anterior), sua evolução e sua transformação (relacionada com o período imediatamente posterior). Um movimento literário surge em oposição ao imediatamente anterior, retomando aspectos estéticos e ideológicos do período anterior ao anterior. O Romantismo, por exemplo, surge em oposição ao Classicismo, retomando motivos artísticos e espirituais do Medievalismo. Os períodos literários possuem zonas de interpenetração e as datas demarcadoras não têm um valor absoluto, sendo apenas balizas indicativas da passagem de uma época para outra. O processo da evolução da cultura é lento e gradativo, seguindo um ritmo dialético: a "tese" é constituída pelo nascimento de formas novas, aptas a expressar uma diferente visão da realidade; a "antítese" é afirmação consciente, o estágio de maturidade de esse novo sentir, expresso por um sistema de normas estéticas, em oposição ao código artístico e ideológico do período anterior; a "síntese" é determinada pela transformação num novo período: as formas artísticas de uma época, chegando ao apogeu, cristalizam-se, criam automatismos, e a constante repetição de estereótipos estéticos e espirituais privam a produção artística de seu caráter de originalidade e de novidade: a fase dos epígonos de um período conjuga-se com a fase dos precursores do período seguinte.
À margem das variedades de estilo e de significados que caracterizam cada período cultural, podemos discernir, todavia, duas constantes que ligam vários momentos entre si, ao longo da história do Ocidente. Com fundamento na oposição nietzschiana entre o espírito "apolíneo" e o espírito "dionisíaco", correspondente ao superconsciente e subconsciente freudiano, podemos verificar a alternância de formas e conteúdos apreensíveis pelo código cultura e formas e conteúdos relativos ao código natureza. Alternância semelhante já fora intuída pelo filósofo napolitano Gianbattista Vico que, na famosa obra A ciência nova, publicada em 1725, apresenta a tese dos "cursos e recursos" históricos. Segundo ele, a história dos povos não progride de uma forma linear, mas cíclica, passando da idade teocrática, "divina", período primitivo, fantástico, para a idade "humana", fase de reflexão, de racionalidade, podendo retornar outra vez à fase primitiva. Essa teoria explicaria por que nações de apurada civilização (o Egito, por exemplo) voltaram à barbárie. Na trilha de Vico, o crítico norte-americano Harold Bloom, na sua famosa obra O Cânone Ocidental, divide a Literatura em três Eras: I) "Aristocrática", de Shakespeare a Goethe, correspondendo ao Classicismo; II) "Democrática", ocupando o tempo do Romantismo e Realismo; III) a era do "Caos", em que se encontram os principais autores da modernidade (Freud, Proust, Joyce, Kafka). Do Caos se passaria outra vez ao Cosmos, iniciando novo ciclo por uma renascida era Teocrática, voltando a uma cultura essencialmente "visual", marcada pela tecnologia eletrônica. O código cultural caracteriza um tipo de arte, especialmente literária, que o crítico russo Mikhail Bakhtine chama ideológica ou monológica por ser a expressão dos anseios da grande maioria do povo que acredita nos valores humanos e na possibilidade do conhecimento da verdade, bem como no triunfo do bem sobre o mal, do complexo de virtudes que compõem a ideologia social (ordem, justiça, beleza, amor etc). O código natural, diferentemente, caracteriza um tipo de arte dialógica (→ Dialética), "carnavalizada", expressão da revolta do indivíduo contra a fixidez dos cânones estéticos e a opressão das injunções religiosas e morais. Assim, pode ser encontrada uma predominância alternada, ora do espírito apolíneo, ora do espírito dionisíaco, ao longo da cultura no Ocidente: ao Classicismo (triunfo do código cultural e do paganismo) sucede a Idade Média (→ Medievalismo), quando se daria a predominância do código natural e do Cristianismo (→ Cristo). Com o Renascimento, retornaria a primazia do código cultural, enquanto no Romantismo voltaria a predominância do natural e do espiritual. O Realismo retomaria o código cultural e no Modernismo podemos observar a confluência dos dois códigos. O estudo dos movimentos culturais encontra-se no verbete Idade, onde apresentamos a macro-divisão tradicional em três Eras, cada qual subdividida em épocas ou períodos e em verbetes específicos: Grécia, Roma, Classicismo, Romantismo, Modernismo etc.